A biografia seria extensa se eu me atirasse ao trabalho que merece aquele que, em disputa com Toscanini, é frequentemente citado como o melhor dirigente orquestral do século XX. Nasceu em 1886 em Berlim, com forte formação humanista e musical em 1906 tornou-se assistente de ensaios na cidade natal e aos vinte anos conduzia uma performance da 9ª sinfonia de Bruckner. Em 1920 sucedeu a Richard Strauss na direcção dos concertos sinfónicos da orquestra da Ópera de Berlim e foi aí que a sua reputação cresceu e consolidou; de tal modo que em breve foi nomeado como sucessor do mítico Arthur Nikisch à frente das não menos míticas Orquestra da Gwandhaus de Leipzig e Berliner Philarmoniker. Em 1928 também era o dirigente da Orquestra Filarmónica de Viena e em 1931 co-dirigia com Toscanini o Festival de Bayreuth. Por fim, em 1933, iniciou a direcção da ópera de Berlim. Veio o nazismo. Foi nomeado vice de Richard Strauss à frente da Reichsmusikkammer mas em breve foi acusado pelos governo de admitir demasiados músicos judeus na ópera de Berlim. Em 1934 demitiu-se por razões "políticas" e choveram convites de todos os lados, nomeadamente de Viena, Filadélfia e Nova Iorque para dirigir as suas óperas. Furtwängler, no entanto, quis continuar na Alemanha, porque ingénuamente acreditava ser possível trabalhar ali e dirigir no exterior unicamente as obras que considerava relevantes e os nazis consideravam-no (e bem) um trunfo. Mas o caso "Hindemith" demonstrou-lhe o contrário. Hitler e Goering proibiram-no de executar a sinfonia "Mathis der Maler" e tal proibição forçou-o a abandonar o cargo na ópera em Berlim. Quando se preparava para aceitar o lugar de dirigente da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque e suceder a Toscanini, surgiu uma misteriosa noticia do ramo berlinense da Associated Press, anunciando que Wilhelm Furtwängler "aceitava ser reintegrado na Ópera de Berlim". Tal noticia foi recebida negativamente em Nova Iorque, o convite retirado e o maestro alemão não seguiu outros no exílio. Dirigiu Bayreuth em 1936, outra vez em 1937 , 1943 e 1944. Em 1937 foi a Paris por ocasião da exposição universal. Mas a Gestapo foi colocando cada vez mais pressão sobre a sua posição cada vez mais hostil ao regime e as autoridades iam jogando contra a sua posição com um jovem, talentoso e ambicioso maestro chamado Herbert von Karajan. Furtwängler com a sua posição cada vez mais difícil, particularmente durante a guerra (onde se dedicou à composição) conseguiu fugir, por fim, para a Suiça. Só em 1946 foi oficialmente ilibado das suas acusações de ter colaborado com os nazis, mas tal como Richard Strauss mantem-se como objecto central de debate sobre a frágil distância entre a procura da liberdade artística no seio de regimes desumanos e a colaboração. Em 1950, quatro anos antes de morrer dirigiu em Londres Kirsten Flagstad na primeira performance das Vier Letzte Lieder de Strauss
11.7.06
Amigos de Strauss (XXXI) - Wilhelm Furtwängler
A biografia seria extensa se eu me atirasse ao trabalho que merece aquele que, em disputa com Toscanini, é frequentemente citado como o melhor dirigente orquestral do século XX. Nasceu em 1886 em Berlim, com forte formação humanista e musical em 1906 tornou-se assistente de ensaios na cidade natal e aos vinte anos conduzia uma performance da 9ª sinfonia de Bruckner. Em 1920 sucedeu a Richard Strauss na direcção dos concertos sinfónicos da orquestra da Ópera de Berlim e foi aí que a sua reputação cresceu e consolidou; de tal modo que em breve foi nomeado como sucessor do mítico Arthur Nikisch à frente das não menos míticas Orquestra da Gwandhaus de Leipzig e Berliner Philarmoniker. Em 1928 também era o dirigente da Orquestra Filarmónica de Viena e em 1931 co-dirigia com Toscanini o Festival de Bayreuth. Por fim, em 1933, iniciou a direcção da ópera de Berlim. Veio o nazismo. Foi nomeado vice de Richard Strauss à frente da Reichsmusikkammer mas em breve foi acusado pelos governo de admitir demasiados músicos judeus na ópera de Berlim. Em 1934 demitiu-se por razões "políticas" e choveram convites de todos os lados, nomeadamente de Viena, Filadélfia e Nova Iorque para dirigir as suas óperas. Furtwängler, no entanto, quis continuar na Alemanha, porque ingénuamente acreditava ser possível trabalhar ali e dirigir no exterior unicamente as obras que considerava relevantes e os nazis consideravam-no (e bem) um trunfo. Mas o caso "Hindemith" demonstrou-lhe o contrário. Hitler e Goering proibiram-no de executar a sinfonia "Mathis der Maler" e tal proibição forçou-o a abandonar o cargo na ópera em Berlim. Quando se preparava para aceitar o lugar de dirigente da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque e suceder a Toscanini, surgiu uma misteriosa noticia do ramo berlinense da Associated Press, anunciando que Wilhelm Furtwängler "aceitava ser reintegrado na Ópera de Berlim". Tal noticia foi recebida negativamente em Nova Iorque, o convite retirado e o maestro alemão não seguiu outros no exílio. Dirigiu Bayreuth em 1936, outra vez em 1937 , 1943 e 1944. Em 1937 foi a Paris por ocasião da exposição universal. Mas a Gestapo foi colocando cada vez mais pressão sobre a sua posição cada vez mais hostil ao regime e as autoridades iam jogando contra a sua posição com um jovem, talentoso e ambicioso maestro chamado Herbert von Karajan. Furtwängler com a sua posição cada vez mais difícil, particularmente durante a guerra (onde se dedicou à composição) conseguiu fugir, por fim, para a Suiça. Só em 1946 foi oficialmente ilibado das suas acusações de ter colaborado com os nazis, mas tal como Richard Strauss mantem-se como objecto central de debate sobre a frágil distância entre a procura da liberdade artística no seio de regimes desumanos e a colaboração. Em 1950, quatro anos antes de morrer dirigiu em Londres Kirsten Flagstad na primeira performance das Vier Letzte Lieder de Strauss
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