27.2.08

Isabel Carvalho







Para além da Abissologia da dupla Gusmão & Paiva, foi este um dos melhores momentos deste mês em Lisboa. Gozo absoluto. Aparentemente contra uma virtuose inquestionável e um estilo pessoal inconfundível a Isabel ataca as raízes do próprio trabalho com um nonsense temático que caóticamente parece incidir sobre alguns momentos de história da arte e da enciclopédia. Os meios técnicos são paupérrimos e esferoviteiros, os gestos falsamente incertos. Fez-me pensar nas inúmeras tentativas de retomar o dadaísmo que se vão assistindo por aí e por ali. No caso da Isabel, também possuída pelo desejo de subversão à flor da pele a coisa resulta amplamente porque inteligentemente o ataque começa por incidir sobre ela própria, as suas convenções e convicções no meio de uma comédia agreste. O título da exposição, Bitting the Hand that Feeds You, lê-se neste ponto de vista de modo muito mais estrito e cativante do que se poderia de início pensar perante o ataque anti-comercial, anti-cultura e anti-burguês evidente, mas que estaria condenado a falhar exactamente por ser lançado no meio de uma galeria (a Quadrado Azul).

23.2.08

31-1-2 na Rua das Flores, 55.




Foi no início do mês. Aproveitaram um espaço vazio uma semana antes de se tornar uma sapataria ou um anco e vai daí a abrir fruta. No dia 31 foi o Fernando Mesquita com uns papeis, umas canetas e umas instruções; a 1 de Fevereiro foi o Canoilas e o João Martins (A kills B) a despejarem sobre si próprios latas de 20 litros de amarelo e castanho. "É uma coisa que já foi feita milhares de vezes mas que ninguém viu realmente" (JM) - pronto. Já vi. No terceiro dia (na imagem) foi dado um concerto de homenagem a Sara & André (Variações e Fuga sobre o nome S-A-R-A-&-A-N-D-R-É?) onde no meio se entendia a citação da musica da famigerada série "Fame". A polícia chegou meia hora depois. 8 horas da noite e já havia gente a protestar com o barulho.

12.2.08

Excesso Policial no Grémio Lisbonense







Eu estive lá e não levei por acaso. O que adiante se transcreve vi, aconteceu e foi parcialmente noticiado. As imagens são minhas e correspondem à parte final do happening.

O que aconteceu no Grémio Lisbonense e depois.

O grémio recebeu ontem
(foi na sexta) uma ordem de despejo.

A partir de meio da tarde (cerca das 16h) começaram a juntar-se mais pessoas à porta. Passada uma hora eram cerca de 50 sócios e amigos e alguns jornalistas e fotógrafos (Lusa, jornal Público, Jornal de Notícias, etc). Às 19h eram mais de 100 pessoas de todas as idades.

Dois polícias à porta permanentemente. Os sócios eram impedidos de entrar, tirando alguns membros da direcção e aqueles que tinham de tirar de lá alguns objectos. Uma carrinha de mudanças foi sendo carregada com alguns haveres que não pertencem ao Grémio (instrumentos, coisas do bar, etc). No entanto todo o espólio do Grémio ficou lá. Uma cadeira de barbeiro saíu e houve assobios dos presentes. A cadeira não é propriedade da Associação, mas foi vista por alguns dos presentes como um símbolo deste despejo precipitado. Alguns dos proprietários estiveram no local. Cumpria-se a ordem do tribunal. Fez-se um inventário dos bens.

Cerca das 19h as pessoas que se juntaram para defender o espaço começaram a discutir o que fazer, a questionar a legalidade do despejo e a necessidade de o fazer, uma vez que estava já marcada uma reunião na Câmara Municipal de Lisboa para quarta-feira próxima, com a presença da direcção do Grémio e dos proprietários para negociar uma solução que permitisse a continuidade das actividades culturais da Associação, a preservação do edifício histórico. Houve várias ideias para não permitir o despejo, informar a comunicação social, fazer pressão para que o Grémio não fosse despejado. Fez-se uma assembleia improvisada no átrio da entrada, no rés do chão. Houve esclarecimentos de um membro da direcção que reafirmou a possibilidade de se encontrar uma solução. Um membro do gabinete da câmara do vereador José Sá Fernandes também falou da negociação de quarta-feira, explicando as diligências que podem ser feitas na Câmara.

A advogada do Grémio esteve presente no local, falou muito brevemente da possibilidade de uma negociação e anunciou uma conferência de imprensa pelas 19h30 no seu escritório, longe dali.
Os presentes não saíram do local. Continuaram a discutir. Alguns sócios queriam entrar no Grémio. Discutiu-se a possibilidade de reunir lá dentro e decidir com calma o que fazer. Numa segunda assembleia improvisada, de novo no átrio de entrada, enquanto se preparavam acções de sensibilização e protesto até à quarta-feira seguinte, levantaram-se várias vozes que defenderam que se subisse ao primeiro andar. Muitos subiram. Um polícia pergunta "o que é que fazem aqui?" e começa a empurrar e agredir os primeiros a subir a escada. As pessoas não desmobilizam. Protestam contra a violência despropositada da polícia.

Cinco polícias estão lá em cima. Cassetetes na mão. Os ânimos aquecem. Algumas pessoas apelam à calma. Um membro da direcção apela à calma e volta a reafirmar a possibilidade de se suspender o despejo e arranjar uma solução para o Grémio continuar vivo, que passasse simplesmente por uma actualização da renda. Algumas pessoas pedem identificação da polícia por lhes terem batido.

Grita-se: " O Grémio é nosso!", "Lisboa a quem a vive" e palavras contra a repressão policial. Chegam reforços policiais (mais um dez polícias) que tentam abrir caminho à força pelas escadas para chegar ao primeiro andar. Todos as pessoas se sentam no chão, dificultando a passagem da polícia. A polícia não está com meias medidas, começa a bater indiscriminadamente em todos, criando o caos. Várias pessoas magoadas e esmagadas. Fotógrafos e jornalistas agredidos. Ouvem-se gritos. As pessoas protegem-se, defendem-se como podem. A polícia bate com cassetetes, empurra e pontapeia. Varre à pancada a escada. As pessoas saem do edifício para a rua. Há cabeças partidas
(Têtes Cassé), e muitos queixam-se de terem sido agredidos. Pelo menos um jornalista e um dos que estavam na escada pacificamente ficam no átrio de entrada (rés-do chão).

Depois de alguns diálogos infrutíferos entre a polícia e as pessoas que ali se encontravam, os polícias fazem um cordão cá em baixo, já na rua e começam a dizer às pessoas para circular. Várias viaturas da polícia estão estacionadas no Rossio, junto ao Grémio. As pessoas protestam contra a violência policial. Concentram-se ainda durante algum tempo à frente do Arco do Bandeira (o arco debaixo do Grémio).

(a parte seguinte não testemunhei, óbviamente, porque é sempre feita à surra)



... e depois:
As imagens da TVnet mostram imobilizado no chão um rapaz. Este rapaz, que nunca agrediu nenhum polícia e apelou repetidamente à calma, foi detido e levado para a esquadra.

Na esquadra foi fechado numa sala, foi espancado violentamente (com socos, com uma cadeira, etc), foi ameaçado e torturado durante horas por um dos polícias que estava na operação, um polícia da esquadra da Estefânia de uma posição hierárquica superior. O rapaz violentado pôde telefonar a chamar advogados e amigos que, depois de finalmente sair da esquadra (cerca das 3 da manhã, seis horas depois de ser levado para a ), o levaram ao hospital. Tem várias lesões no corpo e na cabeça.

Conclusão. Umas bestinhas muito grandes mas que dão uns belos modelos para uns trabalhos que estou aqui a pensar. Esta quarta manifestem-se para variar a rotina, á frente da Câmara contra o estado da República e pela preservação do Grémio.

8.2.08

Trabalhos para o ARCO (9) Le Concert sur l'Herbe



Este é mais complexo. O estudo e a ideia já vinham de Berlim. Começou por ser um retrato do Britten com um outro tipo com uma trompa e um cãozinho tipo Datsun e deu nisto; quatro Watteaus, um pterodáctilografo e um psico-killer. Mede 200 por 240.

Trabalhos para o ARCO (8) Guadalcanal


Querem títulos? Pensei em "Fossa das Marianas". Mede 30 por 24. Não tem nada a ver o sanque com violência doméstica. Eu até nem estava lá. Para dizer a verdade é tudo tinta.

Trabalhos para o ARCO (7) Wotan


Mede cerca de 50 por 40cm. Chama-se assim porque o acabei a ouvir o monólogo do segundo acto da Walküre e achei que tinha tudo a ver. Talvez queira isso dizer que Alberich é um dos peixes.

Trabalhos para o ARCO (6) Bokassa


Mede 45x38cm. foi começado em Hildesheim e em Maio de 2006 achei que o tinha terminado (imagem pequena). No final de 2007 levou uma volta. Só sobrou, do anterior, a escancarada bocarra.

Trabalhos para o ARCO (5) Happy NY



Não é York, nem Björk. É "Year". Está escrito atrás porque é uma das raríssimas pinturas à qual atribuí de início um título. Mede 200 x 240, coisa pouca. É uma caçada valente estilo Assurbanipal e ao mesmo tempo uma citação ao logo dos correios.

Trabalhos para o ARCO (4) Papuça e Dentuça


Eu sei! Não é nome que se chame a esta minúscula (24x30) e sublime coisa que pertence ao lote da que andavam in opera desde mil novecentos e carqueja. Para informação a paisagem serviu de fundo, numa versão já coberta pela actual, a um par de ladrões de corpos (mortos). Um tema bonito.

Trabalhos para o ARCO (3) Hombre Periodo Rosa y Azul


Mede 40 x 30cm. Simples. Nada de historias complicadas para além do finíssimo bom-gosto de de ter o cabelo verde.

Trabalhos para o ARCO (2) Via Va Via


De pequeníssimas dimensões; apenas 30 por 24cm. Ando a pintar este quadro desde 2003... ou talvez muito antes. A tela comprei-a quando andava na ESBAL e já a pintei nessa altura. Na foto são difíceis de não notar os gorgulhos das camadas de tinta.

Trabalhos para o ARCO (1) Pin-Hole Aidée


Mede uns simpaticos 220 por 16ocm. Sofreu um acidente com uma corrente de ar mas já não se nota nada.