30.6.06

Mais Pin-pages e uma home-hole









Aqui publico mais algumas pin-holes que, se tudo correr bem,
serão utilizadas numa home-page (piaducha).

29.6.06

Amigos de Strauss (XVIII) Hugo von Hofmannsthal (2)

Logo a seguir ao estrondoso sucesso do Rosenkavalier (1911), Strauss e Hofmannsthal começaram a trabalhar em novos projectos. Hofmannsthal questionou Strauss sobre a possibilidade de uma espécie de conto-de-fadas simbolista à escala épica, algo que estivesse para A Flauta Mágica como o Rosenkavalier estava para As Bodas de Fígaro e numa carta lançou as fundações daquilo que seria mais tarde Die Frau ohne Schatten. Na mesma carta propunha também uma "ópera de Câmara" sobre o mito de Ariadne. Strauss que queria trabalhar sobre a Commedia dell'Arte, queria afastar-se da abstracção das personagens trágicas. Tinha demontrado a sua verdadeira veia com as personagens vivas e imortais do Rosenkavalier e imaginava-se o Offenbach do século XX; como tal demonstrou pouco entusiasmo no trabalho de Hofmannsthal sobre Ariadne. No progresso da composição da nova ópera decidiram então a introdução, num verdadeiro processo de collage do elemento buffo sobre o pano de fundo trágico. Zerbinetta e uma corte de arlequinadas, aparece então do nada em Naxos, em pleno mito, a cantar à desgarrada sobre o amor vadio e terreno contrastando com Ariadne abandonada personificante do amor sublime. Strauss desconfiava do simbolismo emergente e em voga e aplicou-se muito mais nas frivolidades de Zerbinetta do que nos climaxes extáticos entre Ariadne e Baco. A nova ópera, esse híbrido chamado Ariadne auf Naxos estreou em Estugarda em 1912. Era uma obra desequilibrada e Hofmannsthal propôs então uma revisão pela construção de um prólogo. Trabalhando na enormidade de Die Frau ohne Schatten, Strauss a princípio não entrou na proposta. Este processo esgotante entre visões diferentes dos mesmos trabalhos quase provocou um corte de relações entre ambos. Só quando a inspiração de um Hofmannsthal deprimido pela guerra secou é que Strauss se virou então para o prólogo. Ariadne auf Naxos estreou-se definitiva em 1916 com uma nova geração de sopranos a tomar forma com Maria Jeritza e Lotte Lehmann. A composição de Die Frau ohne Schatten arrastou-se durante a guerra e só em 1918 foi terminada. Em 1919 Strauss foi nomeado director da ópera de Viena, um cargo de enorme prestígio. Aí estreou a ópera, cujo complexo simbolismo esteve longe de agradar aos vienenses mergulhados nas urgências de um pós-guerra que nada tinha a ver com os conteúdos daquilo que, apesar de tudo, consiste numa obra prima musical. Die Frau ohne Schatten caiu no esquecimento; só em 1977 seria recuperada por Karl Böhm que lhe devolveu a apreciação merecida por uma produção exemplar. Strauss e Hofmannstahl voltaram aos mitos gregos desta vez com a epopeia de Troia. A ópera Die Aegyptische Helena, cheia de orientalismos artificiais e sem calor humano, estreada em 1928 em Dresden e cinco dias depois em Viena, mesmo com Fritz Busch na condução e Maria Jeritza no papel de Helena, foi um verdadeiro fracasso. Faltava um novo Rosenkavalier. Hofmannsthal prometeu-o, e em 1929 apresentou a Strauss o texto do primeiro acto do ópera que seria Arabella. Strauss, felicíssimo por ter reencontrado a sua melhor veia do dramaturgo vienense, a 14 de Julho respondeu com um telegrama: "Primeiro acto excelente, mil agradecimentos e felicitações". Hofmannsthal nunca o chegou a ler; a 12 de Junho o seu filho, Franz, suicidara-se. A dor e as fraquezas de doenças recentes foram-lhe fatais. Ao vestir-se para o funeral do filho sofreu um ataque de coração e morreu. Strauss, em choque, demorou a perceber a verdadeira extensão da perda de tal amigo e colaborador. A partir da composição da música para esse primeiro acto a presença de Hofmannsthal foi-se diluindo e diluiu-se também a fonte de inspiração do compositor. O primeiro acto de Arabella mantém-se como o último genial testemunho da produtiva amizade dos dois.

27.6.06

Pin-hole (1)







Aqui vai, como foi prometido no início do mês.

26.6.06

Bienal de Berlim (9) Pawel Althamer



Althamer, também polaco, aproveitou a 4ª Bienal de Berlim e baseado na sua experiência anterior como ilegal na mesma cidade, para ajudar um emigrante também ilegal a conseguir uma permissão de residência. Durante o decurso da Bienal foi cedido um apartamento ao emigrante (neste caso uma emigrante), um prof. de alemão e um tradutor, auxílios importantes para preparar a sua vida na Alemanha. No espaço da exposição está apenas este papel a explicar a situação da personagem e um abaixo-assinado para o pedido de permissão de residência. No final da Bienal (não sei se sucedeu) esta emigrante conseguiria um emprego e a autorização. Moral da história: A arte ajuda e é amiga. E a crítica? A caneta alguém escreveu irritado; - "E o que se faz com os outros todos? Deixas os artistas-turistas iludidos" - Inquiri sobre o autor desta frase. Não foi o artista que escreveu (a não ser que a coisa tenha sido secretamente planeada) mas era o comentário que faltava para fazer com que este trabalho fizesse sentido. O link para o texto e abaixo assinado é www.berlinbiennale.de/eng/index.php?sid=bb_01_01

25.6.06

Amigos de Strauss (XVII) Richard Strauss (adulto)



Esta imagem representa-o por volta da última década do século XIX na época da criação dos poemas sinfónicos e da conquista dos auditórios internacionais.

24.6.06

A Marschallin (Der Rosenkavalier)

O oposto de Ochs. A Marschallin é a personagem que na ópera confere a dimensão trágica ao esquema picaresco centrado na figura um tanto quanto pueril de Octavian. No primeiro esboço da ópera esta personagem não tinha a importância que veio a ter no final. Na verdade não aparece no segundo acto e no terceiro aparece como figura de climax e desenlace. Todas as personagens da ópera parecem recortadas de Goldoni, são funcionais no estilo novelesco do século XVIII. Sophie é equivalente à heroina do mesmo nome da novela de Fielding, Tom Jones (não é o cantor. é outro); Octavian é um jovem gentilhomme típico de qualquer trama libertina; Ochs a impagável besta de serviço; Faninal, é o novo rico; Valzacchi e Annina os criados bisbilhoteiros e conspiradores. A Marschallin nunca possui uma dimensão comica. Não se envolve na trama; emoldura-a. Nesse papel dirige-se a nós e é a única personagem que se dirige directamente ao público, não como o coro das tragédias, nem como um narrador, mas pela natureza do seu discurso reflexivo sobre o tempo. É o tempo que a ultrapassa, mais ninguém. É ela que ao tomar a consciência da realidade que se lhe escapa por entre os dedos descola-se da trama de todos os outros personagens e introduz a morte no plano da comédia. A música acompanha numa das páginas mais sublimes de Strauss; o trio final da ópera.

23.6.06

Amigos de Strauss (XVI) - Hugo von Hofmannsthal(1)

Hugo von Hofmannsthal nasceu em Viena em 1874 no seio de uma aristocracia que celebrava o esteticismo de uma arte sensualista e ornada, muito comum, foi notado mais tarde, à tradição rocócó bávara. "Tal como o seu compatriota, Robert Musil, o autor de Der Mann ohne Eigenschaften (O homem sem qualidades), Hofmannsthal via o Homem como existente numa era de infinitas escolhas, infinita incerteza - uma sociedade a lidar consigo pr´pria sobre um glaciar instável. A este sentido de instabilidade chamou das Gleiternde." (David Nice, 1993) Foi um grande amigo de Strauss mas sobretudo um grande colaborador. Poucas vezes na história da música dois génios de igual estatura mantiveram uma colaboração longa e tão produtiva como sucedeu no caso de Hofmannsthal e Strauss. Para além do próprio Strauss é Hofmannsthal a única personalidade a ter mais do que uma representação neste projecto em curso. Com efeito desde 1908 com até à morte do vienense em 1929 colaboraram nas seguintes obras: Elektra (1908); Der Rosenkavalier (1910); Ariadne auf Naxos (1916); Der Bürger als Edelman (musica para a versão de Hofmannsthal do Bourgeois Gentilhomme, 1917); Die Frau ohne Schatten (1917); Die Aegyptische Helena (1927); o primeiro acto de Arabella (1933) tendo o próprio Strauss subsequentemente e anos após a morte do dramaturgo, finalizado o libreto. Após uma primeira aproximação entre os dois, onde Hofmannsthal propôs a Strauss um projecto para um ballet que este recusou, por estar mais inclinado para a forma sinfónica, foi a vez do alemão inspirar-se com a versão de Hofmannsthal da Electra de Sofocles (Berlim-1903) encenada por Max Reinhardt (tal como tinha sido a Salomé, de Oscar Wilde) e de novo com Gertrud Eyesoldt no papel principal. "A reinterpretação de Hofmannsthal do mito de Electra levou a situação por inteiro a um abismo: os ideais humanos foram demolidos numa tal extensão que a única cura possível seria a faca." Freud e a interpretação dos sonhos contribuiram para a criação da nova imagem de Electra como uma histérica traumatizada pela perda do pai Aganémnon e consumida pelo ódio a Clitemnestra, mãe assassina. A líbido de Electra é então completamente canalizada para o desejo de vingança que surge como uma solução justificada e triunfante. Strauss foi naturalmente atraído por esta versão escura de helenismo e este atracção gerou as páginas mais violentas, dramática e musicalmente falando, da sua obra. Após Elektra, Hofmannsthal sugeriu a Strauss uma farça de Casanova, a Cristinas Heimreise. Strauss, encantado viu aí a oportunidade de explorar o seu amor por Mozart e pelo Fígaro. Hofmannstahl escreveu e estreou a peça antes de Strauss escrever a música mas a promessa de um enrredo semelhante ficou no ar. Les Amours du Chevalier de Faublas de Louvret de Couvray foram a fonte que em 1909 permitiram ao dramaturgo austríaco a adaptação de Octavian, Sophie e a Marquise (traduzida para a vienense Marschallin) para uma nova peça. Do Monsieur Pourceaugnac de Moliére retirou a personagem cómica da aristocracia rural a que chamou Ochs e das Fourberies de Scapin, o novo-rico Faninal. O resto foi retirado da inesgotável riqueza de detalhe das gravuras de Hogarth. Quando Hofmannsthal enviou a Strauss este material sob a forma de um primeiro acto a composição desenvolveu-se fluída "com a mesma facilidade com que serpenteia o rio Loisach através de Garmisch", respondeu-lhe o compositor. Esta nova peça seria finalmente chamada, já a composição ia no terceiro acto, de Der Rosenkavalier; seria uma das mais perfeitas combinações artísticas de sempre na história dos palcos, da música e da palavra.

22.6.06

Bienal de Berlim (8) Robert Kusmirowski



Outro polaco hiperrealista. Este Pokémon caracteriza-se pela capacidade que possui de replicar perfeitamente em life size, em esferovite e materiais do género coisas que já não se fazem. Em Berlim o trabalho e a escala do que Kusmirowski apresenta são impressionantes e ao melhor estilo do imaginário Of mice and men (o título que deu o fio temático à bienal), evocando de algum modo o transporte de judeus para os campos. A impressão de esmagamento obtem-se tambem pela surpresa e sobretudo pela presença de tão grande volume num espaço de sala de aulas (o edifício era uma escola de raparigas judias). Só os carris são originais.

21.6.06

João Alves faz barulho no Batalha

Mais um evento a que eu não vou poder ir. Vou divulgando entretanto e sempre me consolo. Se não gostasse do desenho também nada tinha para divulgar de concreto. Bom... imagino sempre aquilo que o João Alves pode fazer com aquele aparato nonsense que o acompanha como a sombra. O convite reza assim:
"Para vos convidar para uma sessão de psicodissonância- -alpinista com os CALHAU! Quinta-Feira Dia 22 de Junho a partir das 22horas no Cinema Batalha. Até amanhã. Alves."

Pronto! Já sabem. Hoje no Porto psicodissonânciasalpinistas.

Amigos de Strauss (XV) - O Kaiser

Também não eram própriamente amigos. Quando rebentou o escândalo Salomé, Guilherme II tolerou a ópera porque tinha anteriormente sugerido a Strauss a composição de uma ópera sobre Herodes. A Alemanha desde Bismarck até às vésperas da primeira grande guerra viveu uma grande prosperidade económica, que só foi restringida com a febre de Guilherme em consruir uma Kaiserlischesmarine comarável à Royal Navy. Apesar da prosperidade económica a liberdade cultural não era grande. Guilherme exerceu durante os primeiros anos do seu reinado, depois do corte com Bismarck, uma ditadura personificada na sua pessoa, sem a figura de um chanceler suficientemente forte que moderasse as suas posições. A vida cultural da Alemanha não era de molde ao desenvolvimento do modernismo com a liberdade que o caracterizou em Paris ou em Viena. Paradoxalmente este periodo corresponde à época da musica mais "revolucionária" de Strauss. Mais tarde com Hitler, Strauss enganou-se ao pensar que a arte poderia sobreviver com a mesma facilidade com que apesar de tudo tinha fluído sob o reinado de Guilherme. Se interiormente na Alemanha do Kaiser nem tudo eram espinhos, no exterior as coisas eram muito piores. As desastrosas acções diplomáticas do Kaiser (embora ele pessoalmente não o quisesse) acabaram, como se sabe, por ser um dos principais rastilhos para a guerra.

20.6.06

"Morbo despise da puny humans!"

Morbo e a sua angustiante retórica também em pequeno formato para quem gosta de ficção científica. O original do Futurama é um bocado diferente e raramente é visto em tiradas de D. Juan.

Exposição de (o homem não pára...) João dos Santos em Caldas



Gostei muito do lado prosaico da coisa: a cadeira.

Bienal de Berlim (7) - Michael Beutler

Michael Beutler (1976, Oldenburg), interessado na história cultural da arquitectura, provoca a confrontação dos espaços onde intervem com a construção precária de determinadas formas retiradas desse fundo de imaginário. Em Berlim, nas estrebarias dos antigos postos de correio, contruiu uma escadaria de três lances que seguem fisicamente a arquitectura pré-existente mas que por outro lado contrastam no absurdo de não existirem ali as exigências do carácter representativo social de tais escadarias.

19.6.06

Hamburger Art - Architektur-und-Kunstkritik

Com largas faixas a dar para o Elba e largamente bombardeada, Hamburgo foi e é o paraíso da arquitectura para a vista. O crítico de arte da Opium Bombe esteve lá e não se excusou a opinar. Polegar para cima - Bom; mão a abanar - Assim Assim; Polegar para baixo - Pois...


Amigos de Strauss (XIV) - Alexander Ritter

Alexander Ritter era um compositor que também era violinista na orquestra de Meiningen, onde Strauss estagiava sob a direcção de Von Bülow. Era um ávido apoiante das novas tendencias musicais. Foi ele quem aconselhou Strauss a seguir estas novas tendencias no seu próprio processo criativo. Dotado de uma grande qualidade de polemista discursava sobre a perda de força do paradigma expressivo de Beethoven entre as pesadas estruturas de Bruckner e os conceitos vazios de Brahms, e a sua salvação através do "programa" implícito no poema sinfónico tal como desenvolvido por Liszt. De Liszt, Ritter introduzia os novos conceitos wagnerianos e a filosofia de Schopenhauer.
Strauss chegou nesses anos de formação a descrever Ritter "como o homem a quem mais devia do que qualquer outro, vivo ou morto."

18.6.06

Amigos de Strauss (XIII) - Ernst von Schuch

Ernst von Schuch depois de ter impressionado Strauss com uma interpretação do poema sinfónico Till Eulenspiegel em 1895 foi o maestro que em Dresden (era director da königliches Opernhaus desde 1882) conduziu as estreias absolutas das primeiras óperas do compositor após Guntram; a primeira foi Feuersnot, seguida de Salomé, Elektra e Der Rosenkavalier. Morreu em 1914.

Der Baron Ochs auf Lerchenau

Ohne mich, ohne mich jeder tag dir zu bang, mit mir, mit mir keine nacht dir zu lang. Talvez a mais genial criação da dupla Strauss/Hofmannsthal. Ochs (Ox) é uma verdadeira besta quadrada versão século XVIII. Tenho duas versões do Rosenkavalier. Uma com Walter Berry neste papel e outro ainda, a histórica gravação de 1957 de Karajan (esse sim, esteve incrito no partido) com Schwartzkopf, Teresa Stich-Randall, Christa Ludwig e Otto Edelmann no papel de Ochs. Este último é na minha opinião, por seu turno, absolutamente genial no papel do Barão: Cerveja e salsicha qb.

17.6.06

Amigos de Strauss (XII) - Oscar Wilde

Se meti o Frederico Nietzsche só porque serviu de inspiração à música do dois mil e um odisseia no espaço, tinha de meter nesta galeria o autor do texto que foi adaptado para a primeira grande escandaleira operática de Strauss: Salomé. Com efeito, esta ópera foi adaptada pelo próprio Strauss do texto da peça do mesmo nome da autoria de Oscar Wilde que o compositor assistira em 1902 numa extraordinária produção de Max Reinhardt com Gertrud Eysoldt no papel principal. Strauss teve a noção que a ópera iria causar transtornos. Cosima Wagner ficou horrorizada quando Strauss tocou-lhe a versão para piano. Na ocasião da estreia em 9 de Dezembro de 1905 (Dresden) a ópera foi objecto de ovação de um público entusiasta (com 38 chamadas ao palco!) - e a veemente denuncia da imprensa conservadora. Em Londres a ópera foi defendida no Convent Garden por Beecham, mas foi objecto de censura. A Salomé de Wilde passou nos meandros burocráticos londrinos. A mesma peça em música teve menos sorte. Beecham foi obrigado a fazer "certas alterações" no texto para melhor seguir o decoro do Novo Testamento. Em Nova Iorque, Sir Edward Elgar foi convidado a presidir a orações pelo falhanço da ópera "sacrilega". Em Berlim o Kaiser aceitou o escândalo desde que no fim se assistisse ao brilhar optimista de uma estrela de Belém. Mas como o próprio Beecham reconheceu, "whenever there is the slightest hint of naughtiness in a piece, the whole town yearns to see it!"

Bizarrias de Momento



No meio da azáfama do Strauss vai ficando tempo para fazer outras coisas em acrílico. Três detalhes. Tudo muito local. Ficarão para mais tarde as apresentações gerais.

16.6.06

Amigos de Richard Strauss (XI) O próprio em Criança

Já se sabe. Richard Strauss nasceu em Munique em 1864 numa família de músicos. O pai, Franz era o primeiro trompista do teatro real; o tio violinista. Cedo demonstrou grandes capacidades musicais e teve a sorte de crescer no meio adequado onde essas qualidades poderiam ser apreciadas. E foram.

15.6.06

Caldas e o Eterno Retorno (a Leiria, neste caso)



Pois é. Parece que está marcada uma inauguração-festa-comício-sessão de esclarecimento e autógrafos para a Livraria Arquivo de Leiria. 4 de Agosto. Fica aqui o cartaz feito pelo Nuno Costa.

Amigos de Strauss (X) Hans Von Bülow

Von Bülow é uma das primeiras estrelas de estatura universal como dirigente orquestral. Ligado às últimas vanguardas do século XIX, na defesa de Wagner e do seu "oposto" Brahms teve como instrumento de eleição a orquestra ducal de Meiningen. Eduard Hanslick (um dos mais respeitados críticos musicais da época) dizia que Bülow dirigia uma orquestra como se fosse um simples e pequeno sino numa mão. Como wagneriano, apesar de Wagner lhe ter roubado a mulher, Cosima, foi forçado a abandonar, pesando mesmo a sua fama, a orquestra real de Munique pelas mesmas intrigas e intriguistas que haviam expulso anteriormente o próprio Wagner. Franz Strauss, o pai de Richard, estava à frente desses críticos da "nova" musica. Mesmo assim Bülow não se esquivou a reconhecer precocemente o talento do jovem Richard Strauss (ao examinar a sua Serenata para 13 instrumentos de sopro em mi menor de 1881), encomendando-lhe trabalhos, introduzindo-o no "laboratório" de Meiningen, deixando-o a conduzir na sua ausência e indicando-o para importantes contratos profissionais. Um dos mais importantes foi o de maestro assistente em Weimar. Foi também por inermédio de von Bülow que Strauss se introduziu no restrito círculo de Bayreuth em torno de Cosima. De certa maneira Bülow "vingou-se" do velho Franz, levando o filho a dedicar-se às novas correntes musicais que o classicista trompista da Orquestra do Teatro Real de Munique abominava. Hans von Bülow morreu no Cairo em 1894.

14.6.06

Bienal de Berlim (6) Marcel van Eeden



Holandês, trabalha sobretudo em desenho (lápis sobre papel com alguma gramagem). Todos os dias publica um novo na sua webpage (www.marcelvaneeden.com). Os desenhos em formato de carta formam ciclos sempre sobre iconografia anterior ao seu nascimento (1965) incluindo fotografias de jornal, headlines, livros, revistas. A produção organizada sempre no mesmo esquema formal enquadra toda a obra deste autor como diário, construído desde o início dos anos 90. Em Berlim apresentou mais de uma centena de desenhos sobre a vida imaginária de K.M. Wiegand. Os desenhos e as legendas constituem-se como discurso fragmentário expansivo de vidas ou acontecimentos públicos onde o nome de Wiegand age como agregador absurdo.

13.6.06

Parental Overcare / Alegria no lar (1)

Inicio aqui a apresentação de uma série de 5 pequenas pinturas para aquele tipo de publicações pirosas sobre todo o género de cuidado a ter com crianços. Generation gap e fait divers pictórico.

Álvaro Cunhal


Fez um ano. Morreu a 13 de Junho de 2005.

12.6.06

György Ligeti



György Ligeti morreu aos 83 anos em Viena.

3 Secos aos EUA

Que belo! Acabei de saber que os checos bateram os americanos por 3-0. Falo ainda de futebol, infelizmente, porque no Iraque continua tudo na mesma. Agora só falta a Itália e o Ghana fazerem o mesmo aos bushistas. Para comemorar o evento aqui vai uma pintureca com um intelectual a dizer adeus e os seus crocodilo e gaivota preferidos.

Costa Rica 4 - Alemania 0



Festa. Alemanha políticamente correcta. Contra o nacionalismo das bandeirolas schwartz rot und gold o desejo de uma derrota bem expressa da Alemanha às mãos dos Costa-riquenhos. Tal era o desejo de Soenke e de um punhado de latino-americanos que se juntaram por aqui a fazer uma salsaparty de temática e culinária pouco alemã. Pode-se ver no convite o bom do edifício Trillke na praia a apanhar banhos de sol e cocos na carola. 4-2. foi ao contrário. A Alemanha com uma avenida na defesa (coisa pouco habitual) enfiou quatro à Costa-Rica. Falo de futebol, claro.
No que diz respeito a Portugal, por aqui os nativos estão por tudo o que não é europeu ou norte-americano. Os alemães torceram por Angola aqui em casa, no estádio (ouvia-se) e ainda mais ao saber (porque muitos não sabem) que Angola é uma ex-colónia portuguesa. O comentador da RTL durante o jogo disse que Portugal desiludia. É verdade. Jogou-se mal. Mesmo assim faz-se festa sempre por aqui porque faz calor. Desta vez foi um jantar de Bacalhau à Brás (tivemos quase a ir para a opção Zé do Pipo) isto antes de ver o jogo com Angola e que em alemão é Klippfisch Brás Art.

11.6.06

Bienal de Berlim (5) - Michaël Borremans



Pintor belga, mais um, nascido em 1963. Herda parte de uma vertente metafísica da pintura que questiona o lugar da pintura e do observador, da pintura enquanto dispositivo, numa mise en scène laboratorial. Os objectos que escolhe funcionam como termos de formulações estruturais. Cada objecto pintado propõe para lá de uma imagem um determinado regime de imagem; cada objecto representado funciona como elemento estrutural de um discurso sobre a pintura. A pintura de Borremans como em tantos outros exemplos mais ou menos recentes e apoiando-se sobre reflexões originadas do âmbito fotográfico, aproxima-se do universo conceptual. Toma então como referentes de uma sua história discursiva obras como a de Vermeer ou a de Caspar David Friedrich, o batidíssimo Las Meninas. A reforçar o discurso sobre a pintura estão expostos ali juntos com todos estes pequenos statements, um modelo tri-dimensional de uma casa, a mesma representada nas pinturas e um pequeno vídeo com um modelo impessoal, figura, sobre uma plataforma que roda lentamente, ou seja; elementos exteriores à pintura que reforçam desse modo insuspeito o discurso sobre esse lugar de suspeição tornada permanente; a representação na pintura. A pintura assim dissecada em processo questionador poderá então e talvez questionar agora por si mesma o lugar da generalidade da representação como drama e recuperar a sua actualidade.

10.6.06

Bienal de Berlim (4) - Dorota Jurczak



Artista nascida em 1978 em Varsóvia. Juntaram-na com trabalho do peso-pesado e compatriota Tadeusz Kantor na mesma sala. É herdeira da tradição surreal gráfica polaca, manifesta em cartazes de teatro e na gravura. O trabalho que apresenta são justamente gravuras extraordinárias pela capacidade de invenção formal e simbólica num medium (a gravura) esgotadíssimo pela produção mediocre e académica. Toda a bienal aliás, é marcada pela tendência surrealizante das escolhas dos seus comissários. Se na maior parte das vezes muitos dos trabalhos se iam pautando por tácticas de frisson fácil, no caso desta gravadora polaca tal não acontece. Sendo tradicionalista em técnica e produção, a experiência que nos transmite é, por isso mesmo ainda mais surpreendente. Hà muito não via um trabalho contemporâneo em gravura que me provocasse o interesse que este conseguiu.

9.6.06

ERZGEILNAZIGOLDSTALL - Mamma Johnny - Jonathan Meese no Hamburger Deichtorhalle



O trabalho (sic) de Meese só se pode ver bem em conjunto; en masse. Erzgeilnazigoldstall é só uma das milhentas formações verbais construídas à volta da obsessão wagneriana, nazi, estalinista, sexual, escatológica do nosso amiguinho metaleiro nascido em Tóquio (1970) e quer dizer qualquer coisa como arce-fixe-estrebaria-ouro-nazi. A exposição é a retrospectiva de 10 anos de desregranço e pode-se ver no Deichtorhalle de Hamburgo até não sei quando (ver net.) A exposição desenvolve-se em salas construídas à volta de um anfiteatro onde se expõe em palco rotativo um cenário que realizou para Kokain. O cenário é uma estrutura em planta de cruz de ferro (ver imagem) dentro da qual se instalou uma espécie de bordel "dark" de onde se projectam diaporamas e vídeo. Erz Ich (archi-eu), Erzwagner (Arcewagner); a rotação do palco faz-se ao som do encantamento da sexta-feira santa do Parsifal e é difícil não fazer uma relação aqui com o filme de Syberberg.



Nas salas laterais o trabalho organiza-se em núcleos. Colaborações com Jörg Immendorf, Albert Oehlen e Daniel Richter; escultura. Num kasbah cor-de-rosa expõe trabalhos em colaboração com Tal-R. Numa torre logo à entrada controi um mausoleu-torre onde coloca os objectos do túmulo de Estaline. Em volta do palco involto em plástico negro pintado garrafalmente a branco podem-se observar pinturas de grande formato, trash quanto baste, na linha mais javarda da boa tradição alemã expressionista dos anos oitenta. Noutra sala expõem-se pinturas recentes (desenhos sobre tela com tinta) com as pinturas picassescas com que concorreu para ser admitido à kunstakademie de Hamburgo hà uns bons anos atrás.



Noutra sala ainda está a instalação com o qual chamou pela primeira vez a atenção internacional. Agindo sobre fotografias, ícones, linguagem; usando e abusando do ego, de figuras referentes reais como Noel Coward, Wagner, Hitler, Heidegger e imaginárias como Gott, Zardoz e Zatan, Meese encheu de tralha uns bons 2400 m2 de área coberta. É pelo esmagamento obsessivo, pela presença doentia do ego, pelos referentes performativos exibicionistas de tradição dadaísta, surreal ou futurista, pela Erzcontinuidade da violência romântica do expressionismo que Meese se torna espectáculo no melhor e no pior do termo. Brutal.