31.7.06

Enche-te de Moscas (in opera)

Eu sei que isto deve um bocado ao falecido Eduardo Luís mas pelo menos não uso pincel zero zero zero zero e defendo as execuções rápidas sem dor. O objectivo é encher de moscas, mosquitos e outros animais mamíferos, uma figura atrás de um vidro partido. A efígie germânica a óleo foi um ensaio técnico de pequeno formato.

30.7.06

16mm in Blue

É dificil imaginar, eu sei; mas a primeira versão desta pintura era loira de olhos azuis com uma paisagem de inverno. Palavra! tinha uma camisola de gola alta grená e um belo de um nariz. Não sei o que se passou. Acho que a certa altura desatinei com a cor da saia e comecei a pintar ananases. Era Maio e o inverno já não morava aqui. Só a Beaulieu consta do primeiro esboço (e o belo nariz).

29.7.06

La Chasse

Terminado antes de ontem (170x120 cm, do mesmo tamanho da timbalista). Esta Nouvelle Diane está algures entre 1871 e a feira popular.
Finished two days ago (170x120 cm, it has the same size as the timbalista). This Nouvelle Diane is somewhere between 1871 and the Popular Fair.

28.7.06

Ban Góg ou O Samurai Castigado

Também em pequeno formato. um avião passa a rasar a cabeça de um infortunado pintor que por isso perde uma orelha. Orelha em japonês é mimi.

27.7.06

A Timbaleira / The Timbaleyr

Maior que o A4 mas mantendo as porporções, uma moçoila timbaleira que me lembro te ter visto na sétima de Mahler pelo Eliahu Inbal no CCB. Da realidade da senhora à aparição da imagem pintada passando pela minha memória vai o universo inteiro. Qualquer semelhança com a realidade é então fruto do puro acaso.

26.7.06

Parental Overcare / Alegria no Lar (2)

E cá está a segunda pintura de pequeno formato de um série de cinco. Pobres crianças. No outro dia uma petiza de dois anos por estes lados referia-se a uma palhinha como um "cigarro para crianças". Outro irrompeu pelo meu atelier e, afronta das afrontas, começou a meter os dedos em todas as telas para ver se estavam secas. No fim com os dedos todos borrados disse com ar reprovador que eu devia pôr os plásticos do chão todos "a lavar na máquina".

25.7.06

Eu sei que o Photoshop fazia isto, mas...



... mas é assim. Vivam o analógico, as dedadas nos vidros, os riscos nos acrílicos, as sombras das cadeiras, o calor insuportável dos focos e as dores nas costas. O rolo utilizado é um EPY 120 a 64 asa para iluminação de tungsténio. Aqui tiro provas em "polaroides" da Fuji. O objectivo do filme é desenhar uma banda.

Ensemble JER amanhã em Sines



Ensemble JER

Os Plásticos de Lisboa

apresenta:

Cozido à Portuguesa
(Portuguese Masterpieces)

Diogo Dias Melgás (1638-1700)
Adjuva nos Deus


Miguel Andrade
Puestos estan frente a frente [1629]


Carlos Seixas (1704-1742)
Sinfonia em Si bemol maior
Allegro – Adagio – Minuet (Allegro)
Concerto em Lá maior
Allegro – Adagio – Giga (Allegro)


Frei Manuel Cardoso (c.1566-1650)
Missa Philippina (1636)
Kyrie – Gloria – Credo – Sanctus – Benedictus – Agnus Dei I – Agnus Dei II


Hugo Ribeiro (*1983)
Gestos II: conversas sobre um contorno (2006)

Estreia absoluta (encomenda do Ensemble JER)
José Eduardo Rocha (*1961)
Prelúdios & Fugas Sobre o nome de Carlos Paredes (2003)


no
Centro de Artes de Sines,

26 de Julho de 2006, 19h
(entrada livre)

24.7.06

Fura-cão Katrina e Piet Heyn



Nesta tela podem-se descobrir vários objectos a flutuar nas enxurradas do ano passado. Entre estres uma valiosa espineta (sic) de 1758 construida pelos irmãos Schwarznegger de Lodz. Mede 200 por 180 cm.

23.7.06

Projecto que se fica por aqui

No cruzamento entre Saul e a Feiticeira de Endor de Benjamin West e do imaginário Freischütz, um projecto que por enquanto não se vai desenvolver por ser absolutamente parvo. O cavaleiro e o fantasma jogam dados. Fica em acrílico.

21.7.06

Amigos de Strauss (XLII) - Strauss aos 83

Pronto. Este é o último. Escolhi acabar esta série de quarenta e dois retratos com a cara sorridente do compositor à chegada ao aeroporto de Northolt para o festival em sua honra organizado por Beecham (Heathrow ainda estava em construção) depois de ter, pela primeira vez na vida, viajado de avião. Strauss morreu em Garmisch em 1949.
Espero que com esta maratona de pequenas biografias tenha alimentado a curiosidade de alguns sobre a música do compositor ou sobre ópera. Aconselhava obviamente o início desta descoberta pelos poemas sinfónicos. O Assim falava Zaratustra é muitíssimo conhecido devido à sua introdução divulgada no 2001 Odisseia no Espaço. Mas existem outros. Don Juan é um dos que gosto mais e Metamorphosen também. Em ópera depende dos temperamentos. Aos que gostam de emoções fortes em vermelho aconselharia o inicio pela Elektra; aos mozartianos de feitio sem dúvida o Rosenkavalier.
Aos outros aos que já conhecem Strauss pode ser a altura de iniciarem a descoberta de trabalhos menos ouvidos como Intermezzo, Capriccio, Die Liebe der Danae, as peças para instrumentos de sopro ou os concertos para trompa.
A título de informação. Os textos que publiquei aqui foram baseados na biografia Richard Strauss de David Nice da Omnibus Press, artigos dispersos na internet e material retirado de "booklets" de cd's.
Os próximos posts serão dedicados a mostrar trabalho mais "livre", para o alívio dos que já desesperavam com tantos retratos formais retirados do universo straussiano.

20.7.06

Amigos de Strauss (XLI) - Sir Thomas Beecham

Citações de Beecham (um pouco de humor brit para variar e porque isto está a chegar ao fim e quarenta e dois retratos é muito retrato até mesmo para quem não os fez.)
"Composers should write tunes that chauffeurs and errand boys can whistle."- "Brass bands are all very well in their place - outdoors and several miles away."- "The English may not like music, but they absolutely love the noise it makes."- "There are two golden rules for an orchestra: start together and finish together. The public doesn't give a damn what goes on in between. " - uma terrível dirigida a uma violoncelista menos dotada "Madam, you have between your legs an instrument capable of giving pleasure to thousands, and all you can do is scratch it!". E por fim, demonstrando espírito, a resposta que deu a Walter Legge sobre a proposta que este lhe fez sobre o salário por todo o trabalho realizado na criação da novíssima Philarmonia Orchestra - "The privilege of directing this magnificent consort of artists is such that my pleasure would be diminished if I accepted a fee. I would, however, gladly accept a decent cigar"
Um verdadeiro "reaça", como bom inglês. Já tinha aqui referido uma citação de Beecham a propósito do escândalo Salomé (ver apontamento sobre Oscar Wilde), e vai na mesma linha destes.
Agora é altura de escrever um pouco sobre Beecham itself e sobre a sua importância no percurso profissional e artístico de Strauss. A vida profissional de Beecham (1879-1961) desde o início do século XX (Sir Thomas desde 1916) até à data da sua morte confunde-se com a vida musical inglesa. No entanto a sua relação com este mundo não foi tão harmónica como se pode imaginar pela quantidade de gravações que nos deixou. A sua relação com outros famosos dirigentes de orquestra foi difícil. Sir Adrian Boult e Sir Henry Wood detestavam-no, Sir John Barbirolli considerava-o indigno de confiança e mesmo os seus colaboradores sofriam; Beecham considerava Karajan "como uma espécie de Sir Malcolm Sargeant", por exemplo. Por outro lado nunca defendeu a música de pilares da música britânica como Elgar, Vaughan Williams, Walton ou Britten, mas Delius deve exclusivamente a saída da obscuridade ao esforço sistemático que Beecham fez da divulgação da sua obra e cujas gravações são ainda referenciais. Por outro lado ainda criou nada mais nada menos do que três orquestras sinfónicas tão importantes como a Royal Philarmonic Orchestra, a New Symphonic Orchestra e a London Philarmonic Orchestra. As suas relações com o mundo eram um pouco melhores do que em casa. Se era rival de Toscanini (particularmente em Puccini), foi um grande apoiante de Furtwängler, Rudolf Kempe e admirado por Fritz Reiner. A sua relação com o reportório era também polémica. Sendo tal como Strauss um Mozartiano refinado, dizia mal de Bach - "demasiado contraponto, e o que é pior; contraponto protestante!" e que "trocaria de bom grado todos os Concertos Brandemburgueses pela Manon de Massenet" e de Beethoven, "que os últimos quartetos compostos quando era surdo deveriam ser ouvidos por pessoas como ele; surdos!", embora fosse um grande interprete deste último e nos tivesse deixado gavações das sinfonias e da Missa Solemnis. De Wagner foi considerado um intérprete de primeira linha mas mostrava um certo desprezo pela extensão e repetição dos temas - "We've been rehearsing for two hours – and we're still playing the same bloody tune!"- Haendel, ao contrário era uma paixão, mas só depois de reorquestrar, cortar e modificar a música, para horror dos puristas e para epicurista delícia de alguns muitos outros. Foi um grande defensor de Salomé e tornou-se amigo de Richard Strauss quando este último veio a londres supervisionar a estreia de Elektra no Convent Garden em 1910. Strauss ficou, nesta ocasião, admirador da perfeição dos ensaios de Beecham o alemão tornou-se num dos compositores modernos mais defendidos por Beecham, o que, conhecendo o pedigree dos gostos de ambos, o espírito mordaz do maestro e o humor de Strauss, não surge como surpresa.
A amizade de Beecham com Strauss foi muito importante depois da segunda guerra mundial. A infrastrutura teatral bombardeada e bens confiscados colocaram o octagenário Strauss em grave crise financeira e numa situação muito mais grave no que no final da primeira guerra. Além do mais encontrava-se sob vigilância do tribunal de desnazificação quando Beecham em Londres, convence as autoridades as dar uma trégua a Strauss e convidá-lo em 1947 a participar durante um mês num festival em sua honra que o inglês organizara entretanto. Para além de Beecham, Strauss conduziu, e pela última vez na sua vida os seus trabalhos; Don Juan, Burleske e a Sinfonia Domestica no Albert Hall; com a BBC gravou o Till Eulenspiegel no dia anterior ao seu retorno à suiça depois de uma verdadeira apoteose londrina e com dinheiro no bolso para passar em conforto os seus últimos meses de vida.

19.7.06

Amigos de Strauss (XL) - O mesmo aos 55


Retrato do compositor por alturas da estreia de Die Frau
ohne Schatten
(1919) e dos compromissos de Viena.

18.7.06

Amigos de Strauss (XXXIX) - Pauline de Ahna

De Ahna era o nome de solteira de Pauline Strauss. A primeira entrada aqui no Blog foi como Srª Strauss. Agora surge como a primeira de todas as "divas" straussianas; Para além de ser uma wagneriana muito competente e usada em produções de Wagner por Strauss (na imagem aparece como Elsa do Lohengrin), Pauline foi a primeira heroina da primeira ópera do próprio Strauss; a Freihild da ópera Guntram. O sucesso relativo da estreia em Weimar, onde Richard Strauss (ao contrário das suas estreias posteriores) conduziu, ensaiou, encenou, contratou, pintou e criou os figurinos deveu-se ao brilho da voz de Pauline. A sua carreira de palco apesar do seu talento acabou com o casamento, não porque Richard assim quisesse, mas pela vontade própria de Pauline (e diga-se, do espírito burguês da época) de se dedicar à família. Contou Lotte Lehmann a seguinte história: que Strauss e Pauline encetaram uma violenta discussão sobre questões de interpretação num ensaio e que a discussão acabou com Pauline a despejar sobre a cabeça do maestro-compositor a partitura e retirar-se furiosa para os camarins perseguida pelo mesmo. Membros da orquestra ultrajados pelo comportamento pouco deferente da diva com o maestro, seguiram-nos e ficaram de fora a ouvir rumores da verdadeira guerra que se passava lá dentro. Organizou-se uma delegação para comunicar a Strauss a solidariedade da orquestra perante o comportamento chocante da Fräulein Pauline de Ahna e que de futuro, por respeito ao honrado maestro, se recusariam a tocar numa ópera onde a mesma participasse, ao que o sorridente Strauss retorquiu - "Tal magoar-me-ia muito, porque acabei mesmo agora de ficar noivo da Fräulein de Ahna." Enfim... mais um apontamento cor-de-rosa, porque a vida de um compositor não é só trabalho.

Amigos de Strauss (XXXVIII) - Josef Gregor

E a saga Strauss está quase a chegar ao fim... pelo menos aqui. Com este ficam a faltar quatro. Josef Gregor, literato vienense, foi o libretista proposto por Zweig a Richard Strauss, quando o primeiro começou a ver as coisas mal paradas na Alemanha pelo facto de ser judeu. Strauss não lhe deu importância no início (já tinha vivido sob censura no tempo de Guilherme II) mas quando a Gestapo foi a sua casa devido à famosa carta que tinha enviado a Zweig sobre o desprezo que votava à actual situação política alemã e quando a sua nora (que era judia) e os seus netos (meio-judeus) foram ameaçados, Strauss percebeu que o nazismo em nada tinha a ver com os tempos do Kaiser e que Zweig tinha razão no seu alarme. Aceitou por isso e contrafeito os préstimos do devoto e chato Gregor (mas incontestávelmente ariano) que avançou com algumas propostas anteriormente delineadas por Zweig, para trabalhar. Strauss escolheu dois projectos baseados na antiguidade clássica, entre eles o tema bucólico de Daphne (uma paixão antiga sua para um tema de opereta que Hofmannsthal nunca patrocinou) e um outro pacifista sobre o final da guerra dos 30 anos. Os textos de Gregor pouco inspiraram Strauss que os considerava académicos e declamatórios, com personagens que não tinham "glóbulos vermlhos" no sangue. Mas duas óperas nasceram; Daphne e Friedenstag (Dia de Paz) ambas inauguradas em 1938. Tal como os textos não cativaram Strauss também as óperas não cativaram o público embora Gregor exultasse com o "sucesso" obtido. Strauss começou à procura de outros conselhos para libretos. No seu outro projecto "grego" sobre os amores de Júpiter por Danae, levou os textos de Gregor ao maestro e recente adição ao seu círculo íntimo, Clemens Krauss, que os revia. O pobre Gregor óbviamente sofria com o facto, mas trabalhar com Strauss foi o pico da sua obscura carreira. Por fim, na última ópera de Strauss, "Capriccio" os textos foram da autoria completa de Krauss. Die Liebe der Danae e Capriccio, as duas últimas óperas de Strauss, são duas obras primas que testemunham a tardia recuperação criativa de Richard Strauss aos 80; o início do seu "indian summer".

17.7.06

Amigos de Strauss (XXXVII) - Hans Hotter

Hans Hotter, baixo-barítono nascido em Offenbach no Meno é o mais famoso Wotan do século XX. Para além das suas gravações essenciais de Wagner onde se destacam tambem as suas criações de Gurnemanz ou Hans Sachs, deixou-nos também um grande legado de interpretações de lied sempre com um ligeiro sotaque suábio. Neste campo só talvez Fischer-Dieskau tenha partilhado tamanha e geral admiração do público. Embora tenha começado a cantar em 1930 só a partir da sua estreia no Convent Garden em 1947 a sua fama tornou-se mundial. Nesse periodo dos anos trinta tornou-se membro da ópera de Munique (até ao fim da sua carreira em 1972) onde foi notado por Strauss que estreou o Kommandant de Friedenstag (1938) com ele. A partir daí criou o papel de Olivier em Capriccio (1942) e de Jupiter em Die Liebe der Danae no ensaio de 1944 em Salzburgo.

16.7.06

Amigos de Strauss (XXXVI) - Franz Schalk

Em 1919 Strauss abandona Berlim para se tornar director da ópera estatal de Viena. Aqui e durante os invernos começou a planear projectos artísticos do género que lhe tinha sido impossível realizar em Berlim. Por uma vez, o sentido práctico de Strauss falhou. Viena não foi uma tarefa fácil. O seu lugar era dividido com Franz Schalk (vienense nascido em 1863), que tinha sido chefe do staff nos tempos em que Mahler era director e que tinha sido o dirigente na estreia vienense do Rosenkavalier e na estreia completa de Ariadne. Dada a diferença de estatura entre os dois, tornou-se evidente desde o início, que a Strauss caberiam as grandes decisões e a Schalk o verdadeiro trabalho de organização, particularmente durante as grandes ausências de Richard Strauss, compondo e dirigindo frequentemente outras orquestras como era o caso da Staatskapelle de Dresden. Esta relação originou atritos entre os dois. Por outro lado o colapso da monarquia austríaca originou cortes orçamentais que Strauss não previra. De resto todo o ambiente europeu do pós guerra não era de molde a receber bem o espectáculo que foi montado com a Die Frau ohne Schatten. Schalk conduziu à frente de um elenco de luxo (Jeritza, Lehmann e Mayr), com cenários de Alfred Roller aquilo que acabou por constituiur apenas um meio sucesso, o que na verdade significou um fracasso, mediante a energia gasta por todos nesta criação. A ópera tinha demorado oito anos a conceber com frequentes depressões de Hofmannsthal e a guerra pelo meio. Schalk foi co-director com Strauss em Viena até 1924 e por fim director único até 1929. Para além da estreia de Die Frau ohne Schatten, a importância de Schalk para a história reside em dois factos: ter estreado a quinta sinfonia (1894) e sido o grande responsável pela popularização da música de Bruckner (que conseguiu mas graças a cortes e modificações que o compositor nunca autorizou) e ainda, juntamente com Max Reinhardt, Strauss e Hofmannsthal ter recuperado o festival de Salzburgo do esquecimento com a política de altíssima qualidade da sua programação."O mundo do teatro é um asilo de loucos, mas o mundo da ópera é onde se colocam os incuráveis" disse um dia Franz Schalk, cuja vida foi inseparável da ópera estatal de Viena. Morreu em 1931

15.7.06

Amigos de Strauss (XXXV) - Clemens Krauss

Clemens Krauss foi o substituto que foi oferecido a Strauss após a indisponibilidade "por razões políticas" de Fritz Busch à frente da ópera de Dresden onde Arabella estrearia em 1933. Krauss, admirador e seguidor de Nikisch é visto como um maestro que obteve proeminência à custa de ocupar lugares vagos de colegas seus que se incompatiblizaram ou fugiram do nazismo. Na verdade, Krauss era já maestro regular em Salzburgo desde 1926 (foi aí que conduziu o Wozzeck de Alban Berg) e desde 1930 era director musical da Orquestra Filarmónica de Viena (sucedeu a Furtwängler). Estava longe, por isso, de ser um maestro de segunda categoria, mas ter aceite o cargo de dirigente da ópera estatal de Berlim após a resignação de Erich Kleiber e ter abandonado Viena não lhe terá custado muito, visto ser amigo pessoal de Goering e Hitler. Pouco depois tornou-se intendente da ópera de Munique graças à saída de Hans Knappertsbusch. Casou-se com Viorica Ursuleac e esta cantora acompanhou-o desde aí frequentemente nos seus projectos. Krauss e Ursuleac iniciam assim em 1933 a primeira das suas colaborações com Strauss de quem se tornaram amigos próximos. Estreou para além de Arabella, Friedenstag (1938), e Die Liebe der Danae, tanto no ensaio geral de 1944 como na primeira verdadeira estreia em público, após a morte do compositor em 1952. Clemens Krauss foi uma ajuda preciosa a Strauss privado de libretistas de qualidade após a fuga de Zweig; foi revendo e criticando os exercícios academicistas de Josef Gregor (o libretista que Zweig tinha apontado a Strauss e que a este não satisfazia e muito menos inspirava) e por fim foi o libretista da última obra-prima de Strauss; Capriccio, que estreou em 1942. Clemens Krauss foi julgado pelos tribunais de desnazificação e não pode aparecer em público até 1947. Como atenuante da conduta de Krauss constou a sua ajuda frequente à fuga de músicos judeus, mas da fama de oportunista nunca se livrou. A desculpa foi a mesma de sempre; manter a qualidade dos standards artísticos da música alemã. Em 1947, após a proibição, voltou ao grand tour das orquestras. Para além da Orquestra Filarmónica de Viena para onde voltou, conduziu em Convent Garden, no Mexico e em Bayreuth. Morreu em 1953 durante uma visita à Cidade do México e ali está sepultado.

14.7.06

Amigos de Strauss (XXXIV) - Lotte Lehmann (2)

Segundo retrato de Lotte Lehmann. Aqui surge como Arabella na ópera do mesmo nome. Lehmann não inaugurou a personagem (a criação desse papel coube a Viorica Ursuleac em 1933) mas poucas semanas depois estreou-o em Viena. Existem gravações dessa ocasião.

Postal a la Malraux



Acabei as ilustrações necessárias para a realização da BD sobre a vida de Richard Strauss. Esta é a fotografia oficial da ocasião. Vou continuando a publicar as biografias dos "amigos" do compositor (devem ser cerca de quarenta). Agora vai começar a fase da fotografia. Primeira fase: digitalizar esta bonecada toda; segunda fase: montar em três dimensões e fotografar em médio formato; terceira fase: digitalizar e introduzir texto e mandar para Lisboa.

13.7.06

Amigos de Strauss (XXXIII) - Fritz Busch

Fritz Busch foi um dos grandes maestros de ópera do século XX. Filho de um lutier de Siegen (Vestefália) é o mais velho de cinco irmãos dedicados às artes. Adolf Busch (1891-1952) compositor e conhecido violinista e é considerado o percursor do movimento de interpretação autêntica de Bach. O Ensemble Busch tem pela EMI gravações referenciais das suites e dos concertos brandenburgueses. Willi Busch (1893-1951) era actor, Hermann Busch (1897-1975) violoncelista, tocava com Adolf; Heinrich Busch (que morreu cedo) foi pianista e compositor. Fritz sucedeu a Max Schilling como director da ópera de Estugarda e foi aí (de 1918 a 1922) que se revelou como grande dirigente de orquestra e apoiante das novas tendências musicais, nomeadamente estreando óperas do jovem Hindemith (Mörder, Nutsch Nutschi e Hoffnung der Frauen). A partir de 1922 até 1933 esteve à frente da ópera de Dresden e foi aí que o seu destino se cruzou com Strauss. Neste periodo estreou "Intermezzo" (1924) e "Die Ägyptische Helena" (1928). Para além das óperas de Strauss estreou também em Dresden a ópera "Doktor Faust" (1925) de Busoni, "Der Protagonist" (1926) de Kurt Weill e no mesmo ano "Cardillac" (1926) de Hindemith. Foi sobretudo também nesses anos que se revelou como um dos incontornáveis interpretes de Mozart. Mas em 1933 com a ascenção de Hitler foi uma das vozes que abertamente acusou o novo regime. Embora fosse considerado "ariano", intrigas foram lançadas para a sua saída da direcção de Dresden. Nesse ano era a estreia de "Arabella", ópera a qual Strauss dedicara a Busch. Strauss protestou contra a saída de Busch e ameaçou mesmo não estrear a ópera. Acabou por ceder e "Arabella" estreou com Clemens Krauss na direcção. Foi o primeiro compromisso de Strauss com os nazis. Busch entretanto recusou o convite da família Wagner para suceder a Toscanini (outro aceso crítico do nazismo) em Bayreuth e fugiu com a família para a Argentina onde assumiu a direcção do Teatro Colón de Buenos Aires. Foi tão bem recebido que acabou por tornar-se cidadão argentino em 1936. Entretanto viajou durante todo este periodo de tempo. Desenvolveu a Orquestra da Radio Dinamarquesa e foi com Carl Ebert o fundador e criador dos altíssimos niveis de qualidade do festival de Glyndebourne que conduziu até à sua morte em 1951.

12.7.06

Amigos de Strauss (XXXII) - Maria Cebotari

Maria Cebotari foi a primeira Aminta de Die Schweigsame Frau, a tal ópera com libretto de Stefan Zweig que foi banida pelos nazis ápós a estreia em 1935. Nasceu em Chisinev na Bessarábia (hoje na Moldávia e então pertencente ao império russo) em 1910. Aos 21 anos foi ouvida por Fritz Busch que a contratou para a ópera de Dresden. No mesmo ano Bruno Walter contratou-a para o festival de Salzburgo. Poucas carreiras terão tido um inicio tão fulgurante. Strauss era um seu grande admirador. Foi uma das figuras de proa do mundo da ópera alemão e austríaco sob o regime nacional socialista. A guerra pouco interrompeu a sua carreira. A casucha de Berlim bombardeada, pas de problème! vamos viver para Viena. Logo após 1945 os convites internacionais voltaram a chover. Mas a tragédia bate à porta! O seu segundo marido Gustav Diessl, famoso actor de cinema (também Maria Cebotari foi actriz em oito filmes onde contracenou nem mais nem menos de que com Beniamino Gigli) morreu em 1948 com um ataque de coração. Cebotari, que sempre dissera que não poderia viver sem ele, morreu um ano depois com um cancro do fígado. Os dois filhos órfãos e menores foram adoptados pelo grande pianista Clifford Curzon. Esta dava para um daqueles filmes tipo James Ivory a puxar para as lágrimas e para o óscar e o boneco, confesso, não é dos meus melhores.

11.7.06

Amigos de Strauss (XXXI) - Wilhelm Furtwängler



A biografia seria extensa se eu me atirasse ao trabalho que merece aquele que, em disputa com Toscanini, é frequentemente citado como o melhor dirigente orquestral do século XX. Nasceu em 1886 em Berlim, com forte formação humanista e musical em 1906 tornou-se assistente de ensaios na cidade natal e aos vinte anos conduzia uma performance da 9ª sinfonia de Bruckner. Em 1920 sucedeu a Richard Strauss na direcção dos concertos sinfónicos da orquestra da Ópera de Berlim e foi aí que a sua reputação cresceu e consolidou; de tal modo que em breve foi nomeado como sucessor do mítico Arthur Nikisch à frente das não menos míticas Orquestra da Gwandhaus de Leipzig e Berliner Philarmoniker. Em 1928 também era o dirigente da Orquestra Filarmónica de Viena e em 1931 co-dirigia com Toscanini o Festival de Bayreuth. Por fim, em 1933, iniciou a direcção da ópera de Berlim. Veio o nazismo. Foi nomeado vice de Richard Strauss à frente da Reichsmusikkammer mas em breve foi acusado pelos governo de admitir demasiados músicos judeus na ópera de Berlim. Em 1934 demitiu-se por razões "políticas" e choveram convites de todos os lados, nomeadamente de Viena, Filadélfia e Nova Iorque para dirigir as suas óperas. Furtwängler, no entanto, quis continuar na Alemanha, porque ingénuamente acreditava ser possível trabalhar ali e dirigir no exterior unicamente as obras que considerava relevantes e os nazis consideravam-no (e bem) um trunfo. Mas o caso "Hindemith" demonstrou-lhe o contrário. Hitler e Goering proibiram-no de executar a sinfonia "Mathis der Maler" e tal proibição forçou-o a abandonar o cargo na ópera em Berlim. Quando se preparava para aceitar o lugar de dirigente da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque e suceder a Toscanini, surgiu uma misteriosa noticia do ramo berlinense da Associated Press, anunciando que Wilhelm Furtwängler "aceitava ser reintegrado na Ópera de Berlim". Tal noticia foi recebida negativamente em Nova Iorque, o convite retirado e o maestro alemão não seguiu outros no exílio. Dirigiu Bayreuth em 1936, outra vez em 1937 , 1943 e 1944. Em 1937 foi a Paris por ocasião da exposição universal. Mas a Gestapo foi colocando cada vez mais pressão sobre a sua posição cada vez mais hostil ao regime e as autoridades iam jogando contra a sua posição com um jovem, talentoso e ambicioso maestro chamado Herbert von Karajan. Furtwängler com a sua posição cada vez mais difícil, particularmente durante a guerra (onde se dedicou à composição) conseguiu fugir, por fim, para a Suiça. Só em 1946 foi oficialmente ilibado das suas acusações de ter colaborado com os nazis, mas tal como Richard Strauss mantem-se como objecto central de debate sobre a frágil distância entre a procura da liberdade artística no seio de regimes desumanos e a colaboração. Em 1950, quatro anos antes de morrer dirigiu em Londres Kirsten Flagstad na primeira performance das Vier Letzte Lieder de Strauss

"The Strange Case of the Kaczynski (kah-CHIN'-skee) Brothers" ou "Agora é que estamos verdadeiramente no Pós-modernismo"



(ISTO NÃO É UMA MONTAGEM!)

"Poland is about to get a case of political double vision: twin leaders, the Kaczynski (kah-CHIN'-skee) brothers.President Lech Kaczynski is in line to swear in his identical twin brother, Jaroslaw (YAHR'-oh-slahf), Monday as prime minister.
The 57-year-old men have the same round faces and short, pudgy builds and have been well-known to Poles for most of their lives. They were child movie stars.
But it won't be completely impossible to tell the president and prime minister apart: Lech, the president, has two moles on his face and wears a wedding ring. Jaroslaw doesn't have any moles and is a bachelor."


in here

Não. Não são efeitos secundários do vodka polaco. É mais a ressaca em cores garridas da bebedeira bipolarizada do século XX. De manhã estava a "tentar" ler o TAZ (Tageszeitung) sobre a escandaleira que o presidente Lech Kaczynski faz neste momento com o estado alemão sobre os artigos satíricos que este diário de esquerda desferiu contra o governo ultra-nacionalista polaco (pois é meus caros... a Polónia romântica, nobre e sentimental dos pianistas e das arquiduquesas mora mais em Hollywood do que em Varsóvia) e por brincadeira alguém me disse que sendo o irmão do presidente polaco o líder do partido nacionalista no poder só faltava o presidente nomeá-lo primeiro ministro. Á pouco vi esta notícia na ZDF. Aconteceu. Isto é mesmo brutal. É melhor do que arte contemporânea! Mistura a história de conto de fadas do Reagan com o neo-realismo do Wajda, com o Futurama do matt Groning, com os Teletubbies, o bucha & bucha, sei lá!
Não sei o que diga. Para além da cabeçada do Zidane, só me vem o Baudrillard à cabeça com a história das torres gémeas e da superação da modernidade. Mas no meio disto tudo podemos alegrarmo-nos com duas ideias: uma, felizmente que o Cavaco não tem gémeo (acho...) e duas; a Polónia é um bom argumento contra a clonagem.

(recomenda-se também este site )

10.7.06

Amigos de Strauss (XXX) - O próprio em 1894



Esta imagem mostra o nosso caríssimo compositor no ano em que se casou com Pauline de Ahna e que correspondeu ao periodo da regência em Weimar, da viagem ao Cairo (daí o sabor exótico do fundo) e da composição de Guntram, a sua primeira ópera.

Opá!... Zidane!

And the Best headline is: "ZID VICIOUS" by The Sun.
Granda Zidane! Foste muita Dadá pá! Concordo contigo. O futebol é um desporto mesmo cão! Só escusavas de ter imitado o teu amigo Figo. Já tou a ver tudo... combinaram os dois não foi? Despedirem-se à cabeçada! Ein echter Quadratkopf - oder ein Bock? Jedenfalls ein wunderbarer Kopfstoss, der Kommentator war kosterniert, uns blieb nur die Bewunderung. Das ist ein Abschied wie er nicht besser geschrieben sein könnte! Komm zu Bayern München! Dein Franz.
Das war das eigentlichen Finale dieser beschissenen WM... Mist: jetzt müssen wir unsere schönen Fahnen wieder abmachen. - Ausländer raus. Porra!
Mais informações aqui e sobre as mais belas faltas de Materazzi (a vítima) aqui.

Amigos de Strauss (XXIX) - Viorica Ursuleac

Outra diva straussiana, mas dos tempos difíceis. Logo em 1933 estava Arabella para ser estreada com Fritz Busch ao leme, quando os nazis, acabadinhos de chegar ao poder e perante a atitude hostíl (compreensível) do maestro perante a nova ordem, sanearam Busch da ópera de Dresden. Foi então substituido por Clemens Krauss um maestro talentoso com muitas boas ligações ao partido. Com ele veio tambem a soprano romena Viorica Ursuleac (1894-1985). Este casal dedicou-se a partir daí de alma e coração à obra de Strauss. Viorica criou vários papeis importantes das óperas de Strauss desde Arabella, passando por Friedenstag, Capriccio e Die Liebe der Danae no ensaio geral de 1944. Para além destas personagens cantou Elektra, o Rosenkavalier, a Frau ohne Schatten, Ariadne auf Naxos e a Aegyptisches Helena. Para além de Strauss criou papeis de Krenek, Sekkles e D'Albert e cantou Verdi, Puccini e Wagner. Viorica estava longe de ser uma cantora de recurso. Era uma excelente soprano com grandes capacidades dramáticas mas que muito raramente actuou fora da Alemanha e da Austria e gravou muito pouco. No entanto a sua voz deixou marcas nos que a ouviram e era muito apreciada por Strauss que lhe dedicou a ópera pacifista Friedenstag (1938).

9.7.06

Amigos de Strauss (XXVIII) - Kirsten Flagstad

Kirsten Flagstad foi talvez a mais famosa soprano "wagneriana" do século XX. Não era alemã, mas sim norueguesa nascida em 1895 em Hamar e falecida em Oslo em 1962. Tendo começado a cantar em Oslo em 1913, só em 1932 a sua Isolde foi internacionalmente notada, tendo surgido os primeiros convites de Bayreuth, embora em papeis menores como Sieglinde e Gutrune até 1934. É neste ano que é convidada para o Met para audições de sucessão à "rainha" Frida Leider. Em 1935 canta a Brunhilde da Walküre e do Gotterdämmerung, e da noite para o dia foi considerada a maior soprano wagneriana da sua geração. 1936 a 37 vêm os contratos de Convent Garden sob a direcção de Beecham, Fritz Reiner e Furtwängler. Em 1941 volta à Noruega onde o segundo marido seria mais tarde preso por colaboração com o governo pró-nazi de Quisling. De 48 a 51 datam as suas gravações de maturidade em Convent Garden e é aí, em Londres, no Royal Albert Hall que em 13 de Maio de 1950, estreia em apoteose as Vier Letzte Lieder, o canto do cisne (e que canto!) de Richard Strauss sob a direcção de Wilhelm Fürtwangler.

Deeeeeeeeeeeeeeeeeeutschland!



Que cena! Era dificil ganhar nestas condições, num estádio a abarrotar de assobios e de cabeças quadradas. Se foi difícil estar só numa sala com cerca de sessenta alemães aos berros -Tóóóóóóóóóóóóóóór! ("golo" na lingua deles) - cada vez que o Schweinsteiger (cavalgador de porcos) ou Schweini (porquinho) como lhe chamam por aqui, marcava um golo, imagino o que era estar naquele estádio em Estugarda com sessenta mil alemães completamente lixados por não ter chegado à final. Os alemães jogaram bem mas nós também. aliás (aproveito para abrir a boca agora porque falei disso, da bola, muito pouco neste blog)... neste mundial os conquistadores (que nome!) só jogaram bem quando perderam. E este, onde perdemos por mais, jogámos melhor. Falhou-nos o ataque neste certame desportivo de grande brilho internacional que é o campeonato da bola da FIFA. Faltou-nos o ataaaque. O Scolari só fez mal em ter insistido tanto no Pauleta e no Postiga. O Nuno Gomes a passe do Figo (que se despediu muito bem assim e foi aplaudido pelos alemães aqui de casa) marcou um golaço perfeito ao Olli (Oliver Khan) que hoje mostrou porque os alemães o adoram. E foi bom gritar gooolo na contra corrente da noite. Pronto. E já que eles ganharam, publico uma foto da selecção nacional da Alemanha. Hip, hip hurrah!

8.7.06

Amigos de Strauss (XXVII) Richard Mayr

Richard Mayr foi um dos baixos mais famosos da sua geração. Nascido perto de Salzburgo em 1877 foi introduzido por Mahler na Staatsoper de Viena e desde aí foi o seu baixo principal, para além de uma das primeiras estrelas do Festival de Salzburgo. Strauss queria-o em vez de Perron na estreia do Ochs no Rosenkavalier, mas o contrato de Mayr não permitia que os seus serviços fossem utilizados em Dresden (estreou o papel com grande sucesso poucas semanas depois, em Viena). Em 1919 quando Strauss foi nomeado director da ópera de Viena, estreou o papel de Barak em Frau ohne Schatten, mas foi ele sobretudo (e Strauss tinha razão na sua preferência) o primeiro verdadeiro Ochs von Lerchenau. Existe uma gravação da Naxos de 1933 com Lehmann em Marschallin, Elizabeth Schumann (Sophie), Maria Olszewska (Octavian) e Mayr neste papel, que é considerada, pese a qualidade do som, como a mais genuina de todas as interpretações. Mayr morreu em 1938, no ano do Anschluss.

7.7.06

Amigos de Strauss (XXVI) Karl Perron

Karl Perron (1858-1928), baixo-barítono alemão fica na história quanto mais não seja por ter criado três papeis masculinos de três óperas fundamentais de Strauss; estreou o Jonakaan em Salome (1905), foi o primeiro Orestes (Orest) de Elektra (1909) e por fim o primeiro Ochs do Rosenkavalier (1911). Em 1881, vindo de Leipzig, tornou-se cantor da ópera de Dresden que desde essa data tornou-se o centro da sua vida profissional. Viajou pela Europa onde conquistou auditório atrás de auditório não apenas com papeis de ópera mas também como cantor de Lied. Conseguia cobrir duas oitavas a partir da tessitura de basso profondo com uma técnica impressionante. Dotado de uma capacidade dramática notável foi chamado por Cosima a Bayreuth na década de oitenta. Os seus Amfortas, König Marke e particularmente o seu Wotan, influenciaram as gerações posteriores de cantores do festival. Strauss admirava-o. Se as suas qualidades se aplicavam perfeitamente às estilizadas personagens de Orestes e Jonakaan tal não acontecia, porém, com Ochs onde a venalidade comum impera e onde é necessária uma boa dose de comediante. Strauss sabia-o e tentou primeiro contratar o baixo Richard Mayr da ópera de Viena. As suas preocupações ficaram expressas na correspondencia com Hofmannsthal, o libretista; "In case you and Reinhardt [refering to Max Reinhardt the producer] do not succeed in grooming Perron for the part, I give you full powers of veto to cancel the premiere with Perron on the 26th. . . . [Perron] is such a first-class artist that he will understand and share our misgivings." Porém mesmo o facto de o seu Ochs dramáticamente ter sido o elo fraco dessa estreia, a mesma foi um sucesso estrondoso.

6.7.06

Amigos de Strauss (XXV) Franz Strauss

Franz Strauss nasceu em 1922. Formado na filarmónica do seu tio, Georg Walter, em todo o género de metais, aos quinze anos foi convidado para tocar guitarra na orquestra do Príncipe Maximiliano em Munique. Foi nesta orquestra que desenvolveu aquele que seria o instrumento que o fez famoso; a trompa. Dez anos depois em 1847 foi admitido na prestigiada orquestra da corte e fez-se cidadão de Munique. Em 1851 casa-se mas três anos de pois um surto de cólera levou-lhe a mulher e os dois filhos. Dez anos depois casa-se com Josephine, filha de um importante cervejeiro local, Georg Pschorr. Deste casamento nasceu em 11 de Junho de 1864 Richard Georg e em 9 de Julho de 1867 uma rapariga, Bertha Johanna. Neste periodo Franz Strauss compôs especificamente para trompa e a sua fama era tal que o maestro Von Bülow o apelidou de "Joachim da Trompa" (Joseph Joachim, coetâneo de Franz Strauss foi um famosíssimo virtuoso do violino do século XIX). O seu credo musical colocava em primeiro lugar a trindade de deus Mozart no centro e Beethoven e Haydn ao lado, seguidos de Schubert e Weber e a alguma distância por Mendelssohn e Spohr. Mas era sobretudo de ópera que Luis II da Baviera gostava e particularmente da ópera de Wagner que era o seu convidado. Franz reprovava fortemente Wagner e era retribuido nos sentimentos mas Wagner foi obrigado a observar que "se esse Franz era um sujeito detestável tocava trompa melhor que ninguem." Foi um grande pedagogo da Trompa e chefiou uma orquestra amadora que fazia muita música séria (a Wilde Gung'l) e com a qual estreou muita da música do filho. Se pai e filho foram tendo atritos sobre estilo, particularmente à medida em que o jovem Richard foi sendo atraído pelas novas tendências musicais, os ensinamentos que aquele lhe prestou foram valiosos. Franz Strauss retirou-se e dedicou-se a partir daí a cuidar da carreira do filho; apesar de ser crítico nunca deixou de o impulsionar a descobrir a sua própria linguagem musical. Franz morreu em 1905 cinco dias antes da estreia de Salomé, o primeira obra-prima operática do seu filho, Richard Strauss.

Amigos de Strauss (XXIV) - Annie Krull

Annie Krull, cantora da ópera de Dresden foi a primeira Elektra (1909). A sua colaboração com Strauss começou porém em 1901 quando participou na estreia da sua ópera cómica Feuersnot. Só se lhe conhece uma gravação e é justamente de 1909 onde representa Elizabeth no Tanhäuser. Era uma soprano de cariz mais dramático do que lírico. O The Opera Quarterly observa sobre esta gravação; "Annie Krull displays a cool, low-vibrato timbre and remarkable evenness of emission. Some of her high notes have a peculiar aerated quality"

5.7.06

Amigos de Strauss (XXIII) Karl Böhm

Karl Böhm, austríaco, iniciou a carreira verdadeiramente em 1921 quando foi notado por Bruno Walter e convidado para ser seu assistente em Munique. Em 1927 dirigia a orquestra de Darmstadt. Em 1933 (esse ano do destino para a Alemanha) quando dirigiu pela primeira vez o Tristão e Isolda em Viena, foi convidado pelas novas autoridades alemãs para substituir Fritz Busch que fora saneado na ópera de Dresden e emigrara. Aí o destino colocou-o frente a Strauss, que tinha a ópera de Dresden como o lugar de quase todas as estreias das suas óperas. Böhm dirigiu este importante teatro até 1942. Nessa qualidade estreou em 1935 Die Schweigsame Frau, a tal ópera com o libretto de Stefan Zweig que foi rápidamente silenciada pelos nazis, e três anos depois Daphne, que lhe foi dedicada. Em 1942 estreou também o Concerto nº2 para trompa e orquestra. Foi também o maestro convidado para a performance de Ariadne auf Naxos no malogrado octagésimo aniversário de Strauss em 1944. Böhm foi essencialmente um mozartiano tal como o maestro Richard Strauss e por isso talvez o interprete orquestral mais sensível à quintessência mozartiana da música do compositor alemão. No pós guerra foi uma das almas do festival de Salzburgo, cidade onde viria a falecer em 1981. A suas gravações das sinfonias de Mozart (1974) são ainda hoje a referência em orquestra convencional.

Amigos de Strauss (XXII) Maria Jeritza



Soprano nascida em Brno uma cidade situada na actual República Checa, que era então parte do império austro-hungaro. Foi uma verdadeira estrela nos anos 20 (o senhor ao lado é o próprio Strauss na estreia vienense da Die Aegyptisches Helena). Com Lotte Lehmann com quem manteve uma rivalidade ao longo da carreira constitui a primeira geração de divas straussianas e que obteram a nororiedade pela interpretação dos seus papeis. Maria Jeritza para além da voz trazia o glamour para o palco, sendo por isso perfeita para muitas das personagens femeninas de Strauss que naturalmente o exigem. Começou a cantar nos palcos em 1910 na Morávia natal, como Elsa no Lohengrin e estreou-se em Viena em 1912. Notada por Strauss criou nesse mesmo ano o papel de Ariadne na primeira versão em Estugarda. Em 1916 contracenou com Lehmann na segunda versão já em Viena. De novo em 1919, e também em Viena, criou o papel de imperatriz, a Frau ohne Schatten. Foi a Aegyptisches Helena em 1928. Até 1935 foi a diva da Staatsoper de Viena. Cantou no Met de Nova Iorque até 1932, data do triunfo definitivo de Lehmann. Sendo amiga da família Strauss, foi a dedicatária das Vier Letzte Lieder e de outras cançõs tardias do compositor.

4.7.06

Amigos de Strauss (XXI) - O próprio aos 80 anos



Strauss comemorou o octagésimo aniversário em 1944 e a estreia de Die Liebe der Danae estava prevista para a comemoração oficial dessa ocasião. Perante a severidade dos bombardeamentos aliados e a situação de derrota eminente da Alemanha, Goebbels decidiu o encerramento de todos os festivais, incluindo este, consagrado à obra de Strauss. O maestro Clemens Krauss, encarregue do festival, mesmo assim conseguiu, devido à posição de estima que possuia perante os nazis, que a estreia de Danae fosse adiante como uma indulgente excepção perante o estado avançado dos ensaios e preparativos em Salzburgo. Com a aquiescência do gauleiter de Salzburgo, o ensaio geral decorreu a 16 de Agosto mas por fim Goebbels foi em frente e proibiu quaiquer outras performances. Strauss ficou desolado; o interludio orquestral antes da última cena comovia-o especialmente. Foi encontrado no camarim comovido agarrado à partitura e a gesticular em direcção ao céu - "Quado eu fizer o meu caminho lá para cima, espero ser perdoado se levar isto comigo". Só em 1952, três anos após a morte de Strauss, Clemens Krauss daria uma inauguração decente a Danae em Salzburgo.

3.7.06

Amigos de Strauss (XX) Pauline Strauss

Pauline de Ahna casou-se em 1894 com Richard Strauss. Esta imagem representa-a na primeira década do século XX quando abandonara definitivamente os palcos para se dedicar à família (o filho de ambos chamou-se Franz, como o avô paterno). Em casa exagerava as virtudes da hausfrau alemã a um nível que rondava a obcessão. Em publico mostrava-se fria e nervosa, por vezes antipática. Porém em privado o casal Strauss entendia-se, compensando o excelente humor de Richard, o carácter mais acidentado de Pauline. A sinfonia doméstica e mais tarde a ópera Intermezzo, são tributos do próprio Strauss à sua vida familiar. Christine de Intermezzo, papel que foi criado por Lehmann é modelado em Pauline enquanto Strauss (Avestruz) é Robert Storch (Cegonha). A ópera humorada é uma obra prima muito especial, um pouco à parte, cujo libretto foi escrito pelo próprio. Quando Lotte Lehmann após a estreia dirigiu-se a Pauline elogiando o tributo que o marido lhe prestara, esta respondeu caracteristicamente e em voz alta: "estou a borrifar-me!" O casal continuou junto até à morte de Strauss em 1949. Pauline, privada da sua razão de vida, morreu seis meses depois, a 13 de Maio de 1950.

2.7.06

Amigos de Strauss (XIX) Lotte Lehmann

Lotte Lehmann foi uma das maiores (senão a maior) sopranos do século XX alemão. Foi Strauss que a lançou ao propô-la para o papel travesti de compositor (na imagem) do prólogo cómico da versão revista da Ariadne auf Naxos, estreada em Viena em 1916. Com a checa Maria Jeritza, que na mesma ocasião representou o papel de Ariadne, Lehmann forma a primeira geração de divas straussianas. A sua Marschallin considera-se o modelo de todas as outras que vieram depois. A sua criação de papeis em óperas de Strauss não se ficou por aí: foi a primeira Färberin na Frau ohne Schatten e foi a primeira Christine de Intermezzo. (também foi a criadora em Viena de muitos papeis de Puccini que era um grande admirador da sua voz.) Foi uma amiga íntima do casal Strauss e é por ela que nos chegaram as imagens mais vivas do ambiente familiar de Garmisch. Viena era a sua verdadeira casa e quando sucedeu a ascenção dos nazis ao poder na Austria (O anschluss) Lotte Lehmann emigrou para os EUA. Em 1951 depois de mais de 93 papeis representados, de uma carreira de lied raramente igualada, e mais de 500 gravações, Lotte Lehmann retirou-se dos palcos e fundou uma escola de canto. Morreu em 1976.

1.7.06

Hooliganize Hildesheim!



Fritz Busch, Alfred Roller, Annie Krull, Sir Thomas Beecham, Kirsten Flagstad, Wilhelm Furtwangler, Maria Jeritza, Maria Cebotari, Clemens Krauss e Strauss aos 70. Hoje faço batota. trabalhei pouco porque passei o dia todo a ver a bola fui hooliganizar para o centro da pacata cidadezinha local e confraternizar com italianos. Pronto! Fiz o meu dever de emigrante que é como quem vota e que é dar uma apitadelas desordeiras para me vingar da chiadeira que o alemães fizeram ontem por terem passado também às meias. Passei por alguns ingleses. Só fiz duas peças para o Strauss e avancei uma das pinturas grandes. Como não quero estragar a média de um post por dia aqui vai uma série de fotografias de personagens que vou vou passar para o acrílico nestes próximos dias (bela coleção de cromos)... Ah!E a minha irmã mais nova faz vinte anos. Parabéns Joana.