23.6.06

Amigos de Strauss (XVI) - Hugo von Hofmannsthal(1)

Hugo von Hofmannsthal nasceu em Viena em 1874 no seio de uma aristocracia que celebrava o esteticismo de uma arte sensualista e ornada, muito comum, foi notado mais tarde, à tradição rocócó bávara. "Tal como o seu compatriota, Robert Musil, o autor de Der Mann ohne Eigenschaften (O homem sem qualidades), Hofmannsthal via o Homem como existente numa era de infinitas escolhas, infinita incerteza - uma sociedade a lidar consigo pr´pria sobre um glaciar instável. A este sentido de instabilidade chamou das Gleiternde." (David Nice, 1993) Foi um grande amigo de Strauss mas sobretudo um grande colaborador. Poucas vezes na história da música dois génios de igual estatura mantiveram uma colaboração longa e tão produtiva como sucedeu no caso de Hofmannsthal e Strauss. Para além do próprio Strauss é Hofmannsthal a única personalidade a ter mais do que uma representação neste projecto em curso. Com efeito desde 1908 com até à morte do vienense em 1929 colaboraram nas seguintes obras: Elektra (1908); Der Rosenkavalier (1910); Ariadne auf Naxos (1916); Der Bürger als Edelman (musica para a versão de Hofmannsthal do Bourgeois Gentilhomme, 1917); Die Frau ohne Schatten (1917); Die Aegyptische Helena (1927); o primeiro acto de Arabella (1933) tendo o próprio Strauss subsequentemente e anos após a morte do dramaturgo, finalizado o libreto. Após uma primeira aproximação entre os dois, onde Hofmannsthal propôs a Strauss um projecto para um ballet que este recusou, por estar mais inclinado para a forma sinfónica, foi a vez do alemão inspirar-se com a versão de Hofmannsthal da Electra de Sofocles (Berlim-1903) encenada por Max Reinhardt (tal como tinha sido a Salomé, de Oscar Wilde) e de novo com Gertrud Eyesoldt no papel principal. "A reinterpretação de Hofmannsthal do mito de Electra levou a situação por inteiro a um abismo: os ideais humanos foram demolidos numa tal extensão que a única cura possível seria a faca." Freud e a interpretação dos sonhos contribuiram para a criação da nova imagem de Electra como uma histérica traumatizada pela perda do pai Aganémnon e consumida pelo ódio a Clitemnestra, mãe assassina. A líbido de Electra é então completamente canalizada para o desejo de vingança que surge como uma solução justificada e triunfante. Strauss foi naturalmente atraído por esta versão escura de helenismo e este atracção gerou as páginas mais violentas, dramática e musicalmente falando, da sua obra. Após Elektra, Hofmannsthal sugeriu a Strauss uma farça de Casanova, a Cristinas Heimreise. Strauss, encantado viu aí a oportunidade de explorar o seu amor por Mozart e pelo Fígaro. Hofmannstahl escreveu e estreou a peça antes de Strauss escrever a música mas a promessa de um enrredo semelhante ficou no ar. Les Amours du Chevalier de Faublas de Louvret de Couvray foram a fonte que em 1909 permitiram ao dramaturgo austríaco a adaptação de Octavian, Sophie e a Marquise (traduzida para a vienense Marschallin) para uma nova peça. Do Monsieur Pourceaugnac de Moliére retirou a personagem cómica da aristocracia rural a que chamou Ochs e das Fourberies de Scapin, o novo-rico Faninal. O resto foi retirado da inesgotável riqueza de detalhe das gravuras de Hogarth. Quando Hofmannsthal enviou a Strauss este material sob a forma de um primeiro acto a composição desenvolveu-se fluída "com a mesma facilidade com que serpenteia o rio Loisach através de Garmisch", respondeu-lhe o compositor. Esta nova peça seria finalmente chamada, já a composição ia no terceiro acto, de Der Rosenkavalier; seria uma das mais perfeitas combinações artísticas de sempre na história dos palcos, da música e da palavra.

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