2.6.06

Amigos de Strauss (IX) Stefan Zweig

Zweig foi apresentado a Strauss pelo editor Kippenburg. O escritor austrìaco era nos anos trinta já bastante conhecido como autor de biografias de grande agudeza psicológica (as teorias do seu conterrâneo Freud eram para ele fundamentais) e pelas suas short stories. Formado no mesmo ambiente cultural de Hofmannsthal tinha como objecto principal de atenção nas suas personagens os seus valores morais. As suas relações com o mundo musical eram já establecidas tendo no seu círculo figuras como Reger e Busoni. Quando apresentou a Strauss a ideia de adaptar uma peça de Ben Jonhson, Epicoene, or the Silent Woman, este aceitou imediatamente a ideia. Quando em Janeiro de 1933 Zweig entregou o Libretto daquilo que seria a ópera Die Schweigsame Frau (A Mulher Silenciosa), Strauss quase não o alterou, sem duvida como agradecimento e satisfação de ter descoberto um libretista digno sucessor do falecido Hofmannsthal (1929). Zweig era judeu. Ao mesmo tempo que Zweig entregava o Libretto, Hitler subia ao poder na Alemanha. Strauss era uma figura importante do establishment alemão pelo que os nazis precisavam dele. Tal significava que no início os novos dirigentes foram tendo que aceitar as suas exigências mesmo as de conservar um libretista judeu em troca da sua aquiescência em dar a cara para os projectos de uma Alemanha em "renovação" política e cultural. Strauss trabalhou rápidamente. Goebbels deu em 1934 a "protecção oficial" ao trabalho mesmo com facto da associação dos dois autores ser considerada escandalosa. Quando dois dias antes da estreia em Dresden em Junho de 1935 Strauss verificou que o nome de Zweig fora apagado dos cartazes de divulgação da ópera, protestou e conseguiu que o nome fosse re-colocado tendo isso custado mais tarde ao director da ópera de Dresden, Paul Adolph, o seu emprego. Com Maria Cebotari no papel principal e o jovem Karl Böhm na direcção da orquestra a estreia foi muito bem recebida. Deram-se mais quatro performances até os Nazis silenciarem a Schweigsame Frau por mais de uma década. Em 17 de Junho Strauss escrevera uma carta a Zweig. Esta foi interceptada pelas autoridades. Nessa carta Strauss declarava o seu desprezo pela política e pelas polémicas da raça. Strauss foi obrigado a escrever um pedido de desculpas pessoal ao Führer. A colaboração com Zweig ficava fora de questão; Tudo o que pode esperar foi o conselho de Zweig para um substituto. Josef Gregor foi o autor que Zweig pensou então poder tornar-se um novo Hofmannsthal. Não o foi. Strauss perdera com Zweig o último colaborador que realmente o inspirou.

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