



Aqui publico mais algumas pin-holes que, se tudo correr bem,
serão utilizadas numa home-page (piaducha).
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Logo a seguir ao estrondoso sucesso do Rosenkavalier (1911), Strauss e Hofmannsthal começaram a trabalhar em novos projectos. Hofmannsthal questionou Strauss sobre a possibilidade de uma espécie de conto-de-fadas simbolista à escala épica, algo que estivesse para A Flauta Mágica como o Rosenkavalier estava para As Bodas de Fígaro e numa carta lançou as fundações daquilo que seria mais tarde Die Frau ohne Schatten. Na mesma carta propunha também uma "ópera de Câmara" sobre o mito de Ariadne. Strauss que queria trabalhar sobre a Commedia dell'Arte, queria afastar-se da abstracção das personagens trágicas. Tinha demontrado a sua verdadeira veia com as personagens vivas e imortais do Rosenkavalier e imaginava-se o Offenbach do século XX; como tal demonstrou pouco entusiasmo no trabalho de Hofmannsthal sobre Ariadne. No progresso da composição da nova ópera decidiram então a introdução, num verdadeiro processo de collage do elemento buffo sobre o pano de fundo trágico. Zerbinetta e uma corte de arlequinadas, aparece então do nada em Naxos, em pleno mito, a cantar à desgarrada sobre o amor vadio e terreno contrastando com Ariadne abandonada personificante do amor sublime. Strauss desconfiava do simbolismo emergente e em voga e aplicou-se muito mais nas frivolidades de Zerbinetta do que nos climaxes extáticos entre Ariadne e Baco. A nova ópera, esse híbrido chamado Ariadne auf Naxos estreou em Estugarda em 1912. Era uma obra desequilibrada e Hofmannsthal propôs então uma revisão pela construção de um prólogo. Trabalhando na enormidade de Die Frau ohne Schatten, Strauss a princípio não entrou na proposta. Este processo esgotante entre visões diferentes dos mesmos trabalhos quase provocou um corte de relações entre ambos. Só quando a inspiração de um Hofmannsthal deprimido pela guerra secou é que Strauss se virou então para o prólogo. Ariadne auf Naxos estreou-se definitiva em 1916 com uma nova geração de sopranos a tomar forma com Maria Jeritza e Lotte Lehmann. A composição de Die Frau ohne Schatten arrastou-se durante a guerra e só em 1918 foi terminada. Em 1919 Strauss foi nomeado director da ópera de Viena, um cargo de enorme prestígio. Aí estreou a ópera, cujo complexo simbolismo esteve longe de agradar aos vienenses mergulhados nas urgências de um pós-guerra que nada tinha a ver com os conteúdos daquilo que, apesar de tudo, consiste numa obra prima musical. Die Frau ohne Schatten caiu no esquecimento; só em 1977 seria recuperada por Karl Böhm que lhe devolveu a apreciação merecida por uma produção exemplar. Strauss e Hofmannstahl voltaram aos mitos gregos desta vez com a epopeia de Troia. A ópera Die Aegyptische Helena, cheia de orientalismos artificiais e sem calor humano, estreada em 1928 em Dresden e cinco dias depois em Viena, mesmo com Fritz Busch na condução e Maria Jeritza no papel de Helena, foi um verdadeiro fracasso. Faltava um novo Rosenkavalier. Hofmannsthal prometeu-o, e em 1929 apresentou a Strauss o texto do primeiro acto do ópera que seria Arabella. Strauss, felicíssimo por ter reencontrado a sua melhor veia do dramaturgo vienense, a 14 de Julho respondeu com um telegrama: "Primeiro acto excelente, mil agradecimentos e felicitações". Hofmannsthal nunca o chegou a ler; a 12 de Junho o seu filho, Franz, suicidara-se. A dor e as fraquezas de doenças recentes foram-lhe fatais. Ao vestir-se para o funeral do filho sofreu um ataque de coração e morreu. Strauss, em choque, demorou a perceber a verdadeira extensão da perda de tal amigo e colaborador. A partir da composição da música para esse primeiro acto a presença de Hofmannsthal foi-se diluindo e diluiu-se também a fonte de inspiração do compositor. O primeiro acto de Arabella mantém-se como o último genial testemunho da produtiva amizade dos dois.
O oposto de Ochs. A Marschallin é a personagem que na ópera confere a dimensão trágica ao esquema picaresco centrado na figura um tanto quanto pueril de Octavian. No primeiro esboço da ópera esta personagem não tinha a importância que veio a ter no final. Na verdade não aparece no segundo acto e no terceiro aparece como figura de climax e desenlace. Todas as personagens da ópera parecem recortadas de Goldoni, são funcionais no estilo novelesco do século XVIII. Sophie é equivalente à heroina do mesmo nome da novela de Fielding, Tom Jones (não é o cantor. é outro); Octavian é um jovem gentilhomme típico de qualquer trama libertina; Ochs a impagável besta de serviço; Faninal, é o novo rico; Valzacchi e Annina os criados bisbilhoteiros e conspiradores. A Marschallin nunca possui uma dimensão comica. Não se envolve na trama; emoldura-a. Nesse papel dirige-se a nós e é a única personagem que se dirige directamente ao público, não como o coro das tragédias, nem como um narrador, mas pela natureza do seu discurso reflexivo sobre o tempo. É o tempo que a ultrapassa, mais ninguém. É ela que ao tomar a consciência da realidade que se lhe escapa por entre os dedos descola-se da trama de todos os outros personagens e introduz a morte no plano da comédia. A música acompanha numa das páginas mais sublimes de Strauss; o trio final da ópera.
Hugo von Hofmannsthal nasceu em Viena em 1874 no seio de uma aristocracia que celebrava o esteticismo de uma arte sensualista e ornada, muito comum, foi notado mais tarde, à tradição rocócó bávara. "Tal como o seu compatriota, Robert Musil, o autor de Der Mann ohne Eigenschaften (O homem sem qualidades), Hofmannsthal via o Homem como existente numa era de infinitas escolhas, infinita incerteza - uma sociedade a lidar consigo pr´pria sobre um glaciar instável. A este sentido de instabilidade chamou das Gleiternde." (David Nice, 1993) Foi um grande amigo de Strauss mas sobretudo um grande colaborador. Poucas vezes na história da música dois génios de igual estatura mantiveram uma colaboração longa e tão produtiva como sucedeu no caso de Hofmannsthal e Strauss. Para além do próprio Strauss é Hofmannsthal a única personalidade a ter mais do que uma representação neste projecto em curso. Com efeito desde 1908 com até à morte do vienense em 1929 colaboraram nas seguintes obras: Elektra (1908); Der Rosenkavalier (1910); Ariadne auf Naxos (1916); Der Bürger als Edelman (musica para a versão de Hofmannsthal do Bourgeois Gentilhomme, 1917); Die Frau ohne Schatten (1917); Die Aegyptische Helena (1927); o primeiro acto de Arabella (1933) tendo o próprio Strauss subsequentemente e anos após a morte do dramaturgo, finalizado o libreto. Após uma primeira aproximação entre os dois, onde Hofmannsthal propôs a Strauss um projecto para um ballet que este recusou, por estar mais inclinado para a forma sinfónica, foi a vez do alemão inspirar-se com a versão de Hofmannsthal da Electra de Sofocles (Berlim-1903) encenada por Max Reinhardt (tal como tinha sido a Salomé, de Oscar Wilde) e de novo com Gertrud Eyesoldt no papel principal. "A reinterpretação de Hofmannsthal do mito de Electra levou a situação por inteiro a um abismo: os ideais humanos foram demolidos numa tal extensão que a única cura possível seria a faca." Freud e a interpretação dos sonhos contribuiram para a criação da nova imagem de Electra como uma histérica traumatizada pela perda do pai Aganémnon e consumida pelo ódio a Clitemnestra, mãe assassina. A líbido de Electra é então completamente canalizada para o desejo de vingança que surge como uma solução justificada e triunfante. Strauss foi naturalmente atraído por esta versão escura de helenismo e este atracção gerou as páginas mais violentas, dramática e musicalmente falando, da sua obra. Após Elektra, Hofmannsthal sugeriu a Strauss uma farça de Casanova, a Cristinas Heimreise. Strauss, encantado viu aí a oportunidade de explorar o seu amor por Mozart e pelo Fígaro. Hofmannstahl escreveu e estreou a peça antes de Strauss escrever a música mas a promessa de um enrredo semelhante ficou no ar. Les Amours du Chevalier de Faublas de Louvret de Couvray foram a fonte que em 1909 permitiram ao dramaturgo austríaco a adaptação de Octavian, Sophie e a Marquise (traduzida para a vienense Marschallin) para uma nova peça. Do Monsieur Pourceaugnac de Moliére retirou a personagem cómica da aristocracia rural a que chamou Ochs e das Fourberies de Scapin, o novo-rico Faninal. O resto foi retirado da inesgotável riqueza de detalhe das gravuras de Hogarth. Quando Hofmannsthal enviou a Strauss este material sob a forma de um primeiro acto a composição desenvolveu-se fluída "com a mesma facilidade com que serpenteia o rio Loisach através de Garmisch", respondeu-lhe o compositor. Esta nova peça seria finalmente chamada, já a composição ia no terceiro acto, de Der Rosenkavalier; seria uma das mais perfeitas combinações artísticas de sempre na história dos palcos, da música e da palavra.
Mais um evento a que eu não vou poder ir. Vou divulgando entretanto e sempre me consolo. Se não gostasse do desenho também nada tinha para divulgar de concreto. Bom... imagino sempre aquilo que o João Alves pode fazer com aquele aparato nonsense que o acompanha como a sombra. O convite reza assim:
Também não eram própriamente amigos. Quando rebentou o escândalo Salomé, Guilherme II tolerou a ópera porque tinha anteriormente sugerido a Strauss a composição de uma ópera sobre Herodes. A Alemanha desde Bismarck até às vésperas da primeira grande guerra viveu uma grande prosperidade económica, que só foi restringida com a febre de Guilherme em consruir uma Kaiserlischesmarine comarável à Royal Navy. Apesar da prosperidade económica a liberdade cultural não era grande. Guilherme exerceu durante os primeiros anos do seu reinado, depois do corte com Bismarck, uma ditadura personificada na sua pessoa, sem a figura de um chanceler suficientemente forte que moderasse as suas posições. A vida cultural da Alemanha não era de molde ao desenvolvimento do modernismo com a liberdade que o caracterizou em Paris ou em Viena. Paradoxalmente este periodo corresponde à época da musica mais "revolucionária" de Strauss. Mais tarde com Hitler, Strauss enganou-se ao pensar que a arte poderia sobreviver com a mesma facilidade com que apesar de tudo tinha fluído sob o reinado de Guilherme. Se interiormente na Alemanha do Kaiser nem tudo eram espinhos, no exterior as coisas eram muito piores. As desastrosas acções diplomáticas do Kaiser (embora ele pessoalmente não o quisesse) acabaram, como se sabe, por ser um dos principais rastilhos para a guerra.
Michael Beutler (1976, Oldenburg), interessado na história cultural da arquitectura, provoca a confrontação dos espaços onde intervem com a construção precária de determinadas formas retiradas desse fundo de imaginário. Em Berlim, nas estrebarias dos antigos postos de correio, contruiu uma escadaria de três lances que seguem fisicamente a arquitectura pré-existente mas que por outro lado contrastam no absurdo de não existirem ali as exigências do carácter representativo social de tais escadarias.
Alexander Ritter era um compositor que também era violinista na orquestra de Meiningen, onde Strauss estagiava sob a direcção de Von Bülow. Era um ávido apoiante das novas tendencias musicais. Foi ele quem aconselhou Strauss a seguir estas novas tendencias no seu próprio processo criativo. Dotado de uma grande qualidade de polemista discursava sobre a perda de força do paradigma expressivo de Beethoven entre as pesadas estruturas de Bruckner e os conceitos vazios de Brahms, e a sua salvação através do "programa" implícito no poema sinfónico tal como desenvolvido por Liszt. De Liszt, Ritter introduzia os novos conceitos wagnerianos e a filosofia de Schopenhauer.
Ernst von Schuch depois de ter impressionado Strauss com uma interpretação do poema sinfónico Till Eulenspiegel em 1895 foi o maestro que em Dresden (era director da königliches Opernhaus desde 1882) conduziu as estreias absolutas das primeiras óperas do compositor após Guntram; a primeira foi Feuersnot, seguida de Salomé, Elektra e Der Rosenkavalier. Morreu em 1914.
Ohne mich, ohne mich jeder tag dir zu bang, mit mir, mit mir keine nacht dir zu lang. Talvez a mais genial criação da dupla Strauss/Hofmannsthal. Ochs (Ox) é uma verdadeira besta quadrada versão século XVIII. Tenho duas versões do Rosenkavalier. Uma com Walter Berry neste papel e outro ainda, a histórica gravação de 1957 de Karajan (esse sim, esteve incrito no partido) com Schwartzkopf, Teresa Stich-Randall, Christa Ludwig e Otto Edelmann no papel de Ochs. Este último é na minha opinião, por seu turno, absolutamente genial no papel do Barão: Cerveja e salsicha qb.
Se meti o Frederico Nietzsche só porque serviu de inspiração à música do dois mil e um odisseia no espaço, tinha de meter nesta galeria o autor do texto que foi adaptado para a primeira grande escandaleira operática de Strauss: Salomé. Com efeito, esta ópera foi adaptada pelo próprio Strauss do texto da peça do mesmo nome da autoria de Oscar Wilde que o compositor assistira em 1902 numa extraordinária produção de Max Reinhardt com Gertrud Eysoldt no papel principal. Strauss teve a noção que a ópera iria causar transtornos. Cosima Wagner ficou horrorizada quando Strauss tocou-lhe a versão para piano. Na ocasião da estreia em 9 de Dezembro de 1905 (Dresden) a ópera foi objecto de ovação de um público entusiasta (com 38 chamadas ao palco!) - e a veemente denuncia da imprensa conservadora. Em Londres a ópera foi defendida no Convent Garden por Beecham, mas foi objecto de censura. A Salomé de Wilde passou nos meandros burocráticos londrinos. A mesma peça em música teve menos sorte. Beecham foi obrigado a fazer "certas alterações" no texto para melhor seguir o decoro do Novo Testamento. Em Nova Iorque, Sir Edward Elgar foi convidado a presidir a orações pelo falhanço da ópera "sacrilega". Em Berlim o Kaiser aceitou o escândalo desde que no fim se assistisse ao brilhar optimista de uma estrela de Belém. Mas como o próprio Beecham reconheceu, "whenever there is the slightest hint of naughtiness in a piece, the whole town yearns to see it!"
Von Bülow é uma das primeiras estrelas de estatura universal como dirigente orquestral. Ligado às últimas vanguardas do século XIX, na defesa de Wagner e do seu "oposto" Brahms teve como instrumento de eleição a orquestra ducal de Meiningen. Eduard Hanslick (um dos mais respeitados críticos musicais da época) dizia que Bülow dirigia uma orquestra como se fosse um simples e pequeno sino numa mão. Como wagneriano, apesar de Wagner lhe ter roubado a mulher, Cosima, foi forçado a abandonar, pesando mesmo a sua fama, a orquestra real de Munique pelas mesmas intrigas e intriguistas que haviam expulso anteriormente o próprio Wagner. Franz Strauss, o pai de Richard, estava à frente desses críticos da "nova" musica. Mesmo assim Bülow não se esquivou a reconhecer precocemente o talento do jovem Richard Strauss (ao examinar a sua Serenata para 13 instrumentos de sopro em mi menor de 1881), encomendando-lhe trabalhos, introduzindo-o no "laboratório" de Meiningen, deixando-o a conduzir na sua ausência e indicando-o para importantes contratos profissionais. Um dos mais importantes foi o de maestro assistente em Weimar. Foi também por inermédio de von Bülow que Strauss se introduziu no restrito círculo de Bayreuth em torno de Cosima. De certa maneira Bülow "vingou-se" do velho Franz, levando o filho a dedicar-se às novas correntes musicais que o classicista trompista da Orquestra do Teatro Real de Munique abominava. Hans von Bülow morreu no Cairo em 1894.

Que belo! Acabei de saber que os checos bateram os americanos por 3-0. Falo ainda de futebol, infelizmente, porque no Iraque continua tudo na mesma. Agora só falta a Itália e o Ghana fazerem o mesmo aos bushistas. Para comemorar o evento aqui vai uma pintureca com um intelectual a dizer adeus e os seus crocodilo e gaivota preferidos.









