14.12.07

Kassel (7) Anatoli Osmolovsky



Osmolovsky nasceu em Moscovo em 1969. O primeiro trabalho data de 1993. Osmolovsky senta-se no ombro da estátua colossal de Maiakovsky. A fotografia foi tirada durante o processo complexo da queda do regime comunista. Como o mais importante poeta da vanguarda futurista russa e apoiante radical da revolução, Maiakovsky acabou por se suicidar em 1930 em pleno regime Estalinista nunca negando a sua fidelidade a esse regime. Maiakovsky preenche assim um estranho espaço que nos leva a pensar também na carreira de um outro grande artista soviético; falo de Shostakovich. Ambos são comunistas entusiastas na juventude mas o freio jdanovista e realista "popular" do regime acabou por quebrar a genuína vertente revolucionária de ambos. Maiakovsky não sobreviveu. Shostakovich manobrou. Teve mesmo de o fazer para sobreviver nas terríveis décadas de 30 e 40. Estaline elevou o herói convenientemente morto da poesia futurista á dimensão sobre humana de símbolo; como o pai da poesia comunista russa. Para nós, deste lado e particularmente durante os anos do degelo da guerra fria, Maiakovsky foi lido sobretudo como revolucionário, agitador, inspirador do desejo de alternativa ao sistema também ele podre do estado totalitário liberal-burguês. Osmolovsky ao subir aos ombros de Maiakovsky manifesta-se, não sem ironia, como herdeiro de todas as contradições de um projecto por realizar. A monumentalidade opressiva da estátua de Maiakovsky imediatamente transforma-se em gesto monumentalmente libertário. Observando por outro lado a fotografia não nos pode deixar de assaltar a sensação de solidão de um montanhista, de um "conquistador do inútil," reflectida na frieza que se pressente (na própria praça) de um estado que permanentemente ameaça e realiza a sua regeneração como opressão. Tal facto, que se confirma com Putin parece ser patente num trabalho recente deste mesmo Osmolovsky (na segunda imagem). Think Tank ou as relações tenebrosas entre o belo e o letal. As belas e cómodas peças de bronze que ficariam bem em qualquer mesa daquelas só para decorar não são mais do que torres de tanques contemporâneos de fabrico americano, russo, israelita, brasileiro e etc, cada uma com o seu carácter nacional específico. Foi com a torre do temível T-72 russo (claro!) e com todo o interesse que tem despertado que Osmolovsky ganhou a 5 de Dezembro último o Prémio Kandinsky (o Turner prize versão russa).

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