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Betty; 1977. A história desta pequena pintura é mais ou menos complexa segundo nos é apresentada. Richter tirou três fotografias à filha. No ano anterior Ulrike Meinhof foi encontrada na sua cela enforcada com uma toalha. A revista Stern publicou a fotografia que se vê em baixo num spread com a dobra das páginas a coincidir com o pescoço da activista e co-fundadora da Rote Armee Fraktion. Richter teria ligado as duas imagens. No texto refere-se ao detalhe frio da pintura de Richter como metáfora do aço da guilhotina, devolvendo-nos o rosto de Betty aquilo que Ulrike já não pode: o olhar. Na verdade Richter pinta assim normalmente, com grande fidelidade ao referente fotográfico. Não era necessária esta história para nos deixarmos impressionar pela pintura. A ambiguidade da pose não evidencia apenas a postura "indefesa" da vítima (e poderíamos também associar aqui o sacrifício de Isaac ou um S. João Baptista decapitado na bandeja), mas também esse estranho olhar de adulto sem dúvida motivado pela atenção à objectiva e ao pai. Uma imagem pintada muito forte e isto, independentemente da leitura política que se possa ou queira fazer a partir dela.
(Ulrike Meinhof e "cabeças decapitadas" por Gericault)
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