20.4.06

Amigos de Strauss (VI) Goebbels

Pois é. É esta a mais polémica "amizade" de Strauss. Em 1933 o regime Nazi ansioso por ganhar prestígio aos olhos do exterior elabora pelas diligências de Joseph Goebbels um golpe de propaganda no mundo musical.
Nomeia Strauss presidente da Reichsmusikkammer e Furtwängler como vice-presidente sem os consultar. A verdade é que Strauss nada fez para recusar esse posto. Tal como Furtwängler (e ao contrário de Herbert von Karajan) estava longe de ser apoiante do partido ou de simpatizar com Hitler mas ingénuamente acreditou poder promover o melhor da cultura musical alemã, para além de defender com isso a ópera Die Schweigsame Frau e o seu novo e precioso libretista que era judeu, Stefan Zweig. Para além de Zweig e muito mais próxima, a sua nora, Alice era Judia o que fazia dos seus dois netos Christian e Richard, meio-judeus. Os pogroms andavam no ar. Strauss já sofrera de abusos da censura na época de Guilherme II. Pensava que desta vez não seria diferente. Um encontro em 1934 com Goebbels ganhou para Schweigsame Frau o selo da protecção oficial. A ópera estreou em 1935 mas em 17 de Junho os nazis interceptaram uma carta de Strauss para Zweig onde aquele escrevia que nunca agira ou compora movido pelo sentimento de germanidade, que Mozart tunca tivera a consciência de que era "ariano" nos momentos em que compunha. Terminava dizendo que só existiam dois tipos de pessoas: as que têm talento e as que não têm e que para ele o povo só existia como tal quando se tornava audiência. A ópera foi banida, Strauss foi levado a demitir-se do posto de presidente da Reichmusikkammer e ameaçado. So então percebeu o poder e a natureza do novo poder político na Alemanha. Strauss foi ingénuo tal como Furtwängler e tantos outros que aceitaram ficar, só porque pensaram ser passageira a então presente situação política e por terem acreditado na possibilidade moral de um retiro solitário para o mundo da poética no meio dos mais gritantes atentados à dignidade humana. Richard Strauss, velho e amedrontado escreveu perante a ameaça, uma carta obsequiosa ao Fürher explicando como se tinha dedicado sempre ao serviço da mais sagrada arte alemã. Mesmo ilibado em todas as suas relações com o nazismo nos tribunais de desnazificação, Strauss não é tocado hoje em Israel.

2 comentários:

Anónimo disse...

É pena que não seja tocado em Israel.

Perdem os israelitas e perde a cultura e a toelrância.

A música é muma criação de autor, mas, pouco a pouco, torna-se um bem social moldado à imagem de cada ouvinte. A posição israelita é absurda. Mas, mais do que isso, é semelhante ao nazismo na intolerância...

Anónimo disse...

Correcto. Parece-me correcto. E houve o acto corajoso do Baremboin (ou terá sido o Zubin Metha) que tocou à "má fila" Wagner (outro proscrito) num festival israelita.