26.4.06

Francke Stiftung



Há trezentos e tais anos um teólogo protestante, August Hermann Francke (1663-1727) fundou um orfanato às portas de Halle. Os edifícios ainda existem hoje. O projecto, motivado pelo pietismo incluia um sistema escolar completo, uma quinta, oficinas de impressão (milhões de Bíblias impressas) e dedicadas a outras artes, projectos comerciais, para lá das habitações. Constituiu-se como uma pequena cidade dentro da cidade. Esta instituição ganhou a reputação de uma "nova Jerusalem" por toda a Europa e tornou-se o modelo de instituições semelhantes neste continente, na India e nas colónias americanas. Desde 1991 com a retoma das funções originais da fundação recupera-se este património, os edifícios, a valiosíssima biblioteca setecentista dedicada às ciencias e o wunderkabinett, um dos mais completos em todo o mundo. Foi este último que me despertou a curiosidade (não fose essa a sua tradução para português; gabinete de curiosidades). Infelizmente não pude tirar fotos com flash. Tinha duas ou três pinturas expostas. Uma delas representa uma personagem de peruca tipo marquês de pombal, mas com uma pouco usual expressão sorridente e desbragada. O sujeito arregaça a manga e mostra no antebraço uma tatuagem. É Cristo na cruz com a caveira por baixo, a Virgem e Maria Madalena. Não sei porque não vem esta imagem em nenhuma das recolhas da Taschen. Os armários, organizados por matérias, são coroados por pinturas, por vezes arcimboldescas sobre a ciência em questão. Na rubrica Zoologia é um jaguar humanizado que nos olha. Na botânica é uma arcimboldice vegetal, tal como mineral é na secção de mineralogia. Nas secções dedicadas às culturas humanas temos um negro que trabalha em artesanato concentrado nessa tarefa, um trajo turco, na secção trapos e trapinhos e uma composição de varios fragmentos de papel escrito com os mais variados caracteres na secção de linguística. Imperdível para aqueles que gostaram de pintura holandesa do Brasil e querem ver mais (coloquei neste grupo uma pintura de Alberto Eckhout como exemplo só para ilustrar o tipo de mimos pictóricos de que falo).

Sem comentários: